sexta-feira, 27 de abril de 2007

A LITERATURA NACIONAL NOS GIBIS

Não é nova a prática de se transpor para os quadrinhos clássicos da literatura mundial e nacional. Nas décadas de 50 e 60, diversas obras da literatura – como A Moreninha, Senhora e O Guarani, entre outras – foram quadrinizadas pelas editoras La Selva e Ebal. Trata-se de uma forma de se popularizar obras consagradas, deixando-as mais próximas do público infanto-juvenil e mesmo adulto. A comunhão entre imagem e texto facilita a compreensão da obra e torna a leitura muito mais agradável. Este tipo de adaptação ajuda a desmitificar a idéia de que quadrinhos são apenas para crianças. Afinal, essas obras podem atrair várias pessoas, de todas as idades.

Com este intuito, e apostando em um mercado que tende a crescer, a Editora Escala Educacional lançou a coleção Literatura Brasileira em Quadrinhos, voltada para as salas de aula. “Já foram publicados: O Alienista, A causa secreta, Uns braços e O enfermeiro, de Machado de Assis; A nova Califórnia, Miss Edith e seu tio e Um músico extraordinário, de Lima Barreto; e O cortiço de Aluísio Azevedo, com desenhos e roteiros de Vilachã. Jo Fevereiro roteirizou e desenhou Brás, Bexiga e Barra Funda, de Antônio de Alcântara Machado; A cartomante, de Machado de Assis e O homem que sabia javanês, de Lima Barreto. Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, com desenhos de Bira Dantas” (fonte: UniversoHQ).

Os livros são vendidos a R$ 12,90 cada, e trazem ainda um resumo da biografia dos autores e um questionários sobre a compreensão do texto. Integram a série Literatura em Quadrinhos, que conta com releituras de outros autores renomados como Machado de Assis, Lima Barreto e Antônio de Alcântara Machado.

A obra-prima de Azevedo, um dos pioneiros do naturalismo no Brasil, descreve o cotidiano degradante de um cortiço no Rio de Janeiro, no século XIX. A adaptação do texto de O Cortiço ficou por conta de Ronaldo Antonelli e as ilustrações foram produzidas por Francisco Vilachã. O romance de Almeida teve sua narrativa adaptada pelo roteirista Indigo e pelo desenhista Bira Dantas. Narra a história do malandro Leonardo, personagem que se mete em confusões, mas sempre encontra proteção.

No final de 2002 um outro projeto semelhante chegava às bancas: o primeiro volume de CQ - Contos em Quadros. Contando com a adaptação de Célia Lima, arte de J. Rodrigues e com Djalma Cavalcante como organizador; Contos em Quadros traz a adaptação em quadrinhos de três contos de grandes nomes de nossa literatura: Pai Contra Mãe (Machado de Assis), O Bebê de Tarlatana Rose (João do Rio) e Apólogo Brasileiro Sem Véu de Alegoria (António de Alcântara Machado). Além das adaptações, também é publicado o conto em sua forma original, dando a opção ao leitor de comparar as duas versões, e até incentivar a leitura de nossas obras literárias. Há ainda uma mini-biografia de cada um dos autores.

O projeto tem o apoio do Programa Comped (Comitê dos Produtores da Informação Educacional) e sua reprodução contratada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP), com o objetivo de estimular a publicação e a distribuição de livros-textos, obras de referência e outras que contribuam para formação inicial e continuada de professores.

Caso haja interesse em se adquirir estas obras, visite o site da Editora Escala http://www.editoraescala.com.br/ e o da UFJF http://www.ufjf.br/

sexta-feira, 20 de abril de 2007

HQ divulga boas práticas na produção de queijo minas

Notícia muito interessante, principalmente para nós, mineiros. Mais uma idéia que envolve hqs e ensino.


********************
Acreditando no grande potencial educativo dos quadrinhos, de maneira didática e devidamente ilustrada, o Studium Comunicação Integrada desenvolveu uma cartilha para explicar e divulgar as boas práticas agropecuárias para produção de queijo minas artesanal.Desde o argumento, com base científica, até o desenho e a arte-final, toda a linguagem da HQ foi pensada e direcionada ao público alvo - profissionais envolvidos em toda a cadeia produtiva do queijo, desde a ordenha até o produto final. A HQ foi preparada com base na tese de doutorado de José Manuel Martins.Dez mil cópias da primeira tiragem da cartilha, desenvolvida com o apoio do CNPq, FAPEMIG, Sebrae e FIEMG, já foram distribuídas para os produtores de queijo artesanal da região do Serro, em Minas Gerais.


(Por Marcelo Naranjo, tirado do Universo HQ)

segunda-feira, 16 de abril de 2007

EUROQUADRINHOS: blog sobre BD


Um grande amigo meu - Pedro Jervis d' Athouguia Bouça - acaba de lançar seu blog sobre quadrinhos. Pedro é um dos maiores conhecedores de hqs com quem eu já tive contato e atualmente mora em Portugal. seu blog está focado nas BD franco-belgas e é uma fonte garantida de informações e pesquisas sobre o assunto. Ah! Ele também e um dos maiores admiradores e conhecedores do Tintim (se vocês não sabem quem é este personagem, eu aconselho a ir ao blog Euroquadrinhos, onde há informações detalhadas sobre ele). Enfim, um blog que pode servir como fonte de pesquisa sobre hqs e dar uma noção bem real da extensão da popularidade deste gênero narrativo fora do Brasil, com a grande vantagem de ser em português. O link é http://euroquadrinhos.wordpress.com/

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Mangá ensina matemática


Uma contribuição da minha amiga Valéria Fernandes (http://www.shoujohouse.clubedohost.com) para os professores de matemática interessando em trabalhar com quadrinhos.

******************

Enquanto uns se preocupam com os clássicos, no Japão os mangás são usados para educar. Claro que existe a discussão. De acordo com o Comi press (http://comipress.com/news/2007/04/09/1788), o governo japonês autoriou o uso de mangá nos livros de matemática do ensino médio no ano de 2006. Alguns especialicialistas acham que mangá não combina com matemática ou com ciência e que há muito mais mangá do que teoria nas publicações posteriores à permissão.

O livro criticado contém uma história que começa com 5 estudantes pegando um livro didático. Depois que um deles rasga uma página sem querer, o matemático grego Arquimedes aparece e os leva por uma viagem pelo tempo e por diferentes lugares, como as Grandes Pirâmides e os palácios europeus e lá os alunos são confrontados por problemas de matemática apresentados por diferentes pessoas, como um cortesão europeu, um nativo americano e um samurai. Os alunos só poderão voltar para casa depois de resolverem todos os problemas contidos no livro.

E os críticos acham que falta "caráter educativo" a este material... De acordo com os "educadores" do comit~e que pretende reprovar o livro, as ações e os problemas no livro não casam e que eles não conseguiram "entender" o quadrinho. Desconfio porquê... Já o responsável pela edição, diz que tentaram fazer um livro que fosse agradável e educativo mesmo para os alunos que não fossem bons ou gostassem de matémática. Eu acredito nele.

Should Manga be Used in High School Math Textbooks?
The results of the school textbook authorization of 2006 were announced on March 30th in Japan. "Manga Textbook" appeared on the results as a Mathematics II textbook for high schools. However, the textbook's publisher, Keirinkan, had to delete more than half of the manga-related contents the draft version of the textbook.
Working with the idea that students tend to "avoid subjects related to math and science," Keirinkan made the textbook through the process of trial and error, but according to an editor, "MEXT (Ministry of Education, Culture, Sports, Science and Technology) decided that manga just isn't suitable as the main content of a schoolbook."
Keirinkan has prepared three kinds of textbooks. Out of the three, the manga textbook is made for students that do poor in math. A total of 183 pages contained manga in the draft of the textbook. According to an official from MEXT, "This book could be the first textbook to carry so much manga."
The story of manga begins with 5 students picking up a textbook. After the students tear out a page of the book by mistake, the Greece mathematician Archimedes appears and proceeds to take them to various times and places, such as the Great Pyramids and palaces in Europe, where the students are met with math challenges from different types of people, including a man from the European palace a Native American and a samurai. The students are not allowed to return to their own time until they understand the solution of the math problems contained in the book.
In the Trigonometry chapter, one of the boys sees a problem and yells: "I know this! I used to do this, yay!" And the samurai replies "Yay!" and winks. During the authorization trial, several committee members claimed that "the relationship between the actions of the characters and the object of the textbook don't connect" - "We don't understand the meaning behind the words said by the samurai."
MEXT official commented that within the Textbook Authorization Committee, some supported the approval of using manga for educational purposes: "We won't disapprove a schoolbook containing manga, but the manga in the textbook must also focus on education. In this textbook, students could simply read the manga without reading the texts." On the other hand, an editor of Keirinkan said, "We intended to make a textbook that even students not good at math will be able to read, thus giving them a chance to enter the world of mathematics."

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Gibiteca: início dos trabalhos


Hoje tivemos as primeiras reuniões com os professores para passar orientações sobre como trabalhar na Gibiteca (horários, regras, etc), além de pequenos esclarecimentos sobre o que é um Gibiteca, como ela poderá ajudar a melhorar a qualidade das aulas e do ensino na escola e as vantagens que poderá trazer à escola e aos professores, de forma geral. A primeira destas vantagens é a possibilidade de promovermos pequenos cursos e seminários, como será o caso da Primeiro Seminário sobre quadrinhos, leitura e ensino que a escola estará oferecendo aos professores da rede municipal, a ser realizado no dia 18 de maio, como já noticiamos anteriormente. A união da nossa equipe de professores (como a nós se refere a diretora Ana Petraglia) parece está sendo o segredo do sucesso inicial da nossa proposta de inovação do ensino na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado.

Hqs e o ensino de física


Um novo texto, agora sobre hqs e o ensino de física




A Fantástica Física dos Super-heróis

Francisco de Assis Nascimento Junior
Durante a década de 60, um dos personagens mais populares das histórias em quadrinhos, o Homem-Aranha, viveu um de seus momentos mais dramáticos: a morte de sua namorada Gwen Stacy arremessada do topo da ponte George Washington por seu arquiinimigo, o Duende Verde. Bem que o herói tentou salvá-la com sua teia, mas não adiantou: o choque foi fatal e Gwendolyne Stacy morreu durante a queda. Pelo menos, essa foi a explicação dada pelos editores e que povoou a mente de milhares de fãs até o ano de 1995, quando o professor James Kakalios, da Universidade de Minnesota nos Estados Unidos, desvendou esse mistério de mais de 20 anos! O motivo da morte? Pescoço quebrado. A explicação? O princípio da conservação do momento! Mesmo tendo alcançado sua namorada com sua teia, antes que ela atingisse o chão, a constante elástica da teia não foi suficiente para amortecer o impacto da parada brusca. Talvez por isso sua teia (nos filmes recentes para o cinema) tenha uma constante elástica tão grande, chegando a agir como uma mola em determinadas cenas.


As histórias em quadrinhos de super-heróis apresentam um universo próximo ao nosso, com a diferença que nele a ciência poderia ser facilmente confundida com magia, por realizar verdadeiros “milagres”. Tudo é possível para a Física nas páginas dessas histórias, de viagens ao espaço sideral em foguetes domésticos até adentrar dimensões paralelas pela porta de um armário. Claro que foguetes de fundo de quintal são inviáveis no mundo real (uma nave capaz de viajar pelo espaço requer o uso de alta tecnologia, não só em termos de potência, como também em questão de pontaria, já que todos os planetas no universo estão em movimento) e os leitores de revistas em quadrinhos sabem disso, da mesma maneira que, na vida real, ninguém é capaz de voar como o Super-Homem ou de subir pelas paredes como o Homem Aranha. Se por um lado as histórias dos heróis dos quadrinhos dificilmente teriam graça se os personagens vivessem conforme conceitos estritamente científicos, por outro elas levam a física bem mais a sério do que pensamos, por mais vezes do que se pode imaginar. Muitas vezes as revistas de super-heróis acabam por agir como verdadeiros textos de divulgação científica: é possível encontrar exemplos de descrições corretas de vários princípios físicos nas histórias em quadrinhos, abrangendo da mecânica clássica à quântica.


Como coadjuvante ou protagonista, a presença de um gênio inventivo é praticamente obrigatória em qualquer história de qualidade. Sem os cientistas, quebrando todos os galhos, os quadrinhos não teriam graça. É a ciência, muitas vezes, que determina o ponto alto de uma aventura. Fazer com que os super-heróis pulem de suas revistas diretamente para o quadro-negro pode permitir o trabalho com uma questão interessante: os poderes e habilidades “maravilhosos” de suas histórias "teriam lugar" em um universo guiado por rígidas leis da física, como o nosso? No início de sua carreira nos quadrinhos, por exemplo, o Super-Homem não era capaz de voar – ele saltava sobre enormes edifícios! Se levarmos em consideração que um prédio comercial de escritórios norte-americano tem uma média de 30 andares, as pernas do herói precisariam produzir uma estupenda força, correspondente a 2.721,55 kg ao pular: um cálculo fácil de ser reproduzido pelos alunos. A explicação dada pelos autores de suas histórias a respeito de sua estupenda força é o fato da gravidade de seu planeta natal, Krypton, ser muitas vezes maior que a da Terra. Calcular a força gravitacional de Krypton pode se tornar uma atividade interessante e muito divertida sobre vários tópicos da Física e mesmo da Astronomia: a resposta a ser encontrada corresponde a um valor aproximado de 7 vezes a gravidade da Terra. Isso significa que, para que esse planeta pudesse existir em nosso universo, teria de ser quase 7 vezes maior que o nosso, ou quase 7 vezes mais denso. Planetas dessa ordem de grandeza são gigantes gasosos, assim como Júpiter. Mas, nas Histórias em Quadrinhos, Krypton possuía uma crosta sólida – então, não poderia ser gasoso! Restaria supor que o planeta deveria ser então cerca de 7 vezes mais denso que a Terra. Acontece que, em nosso universo, para que isso fosse possível, seria necessário que o planeta possuísse um núcleo composto por material super denso (e instável), como uma estrela de nêutrons, por exemplo. Como resultado, esse planeta não poderia existir, pois explodiria. Como de fato acontece nas histórias em quadrinhos...


Outro personagem que é um prato cheio para uso em sala de aula é o velocista Flash (da DC Comics): seus poderes abrem caminho para uma vasta gama de discussões, desde aplicações da teoria da relatividade até física do corpo humano. Como ele poderia respirar ao correr à velocidades supersônicas? Quanto ele precisaria comer para poder correr assim? Seria possível que ele corresse pelas paredes, subindo pela fachada de edifícios ou sobre a água? Por que o Flash da época da Segunda Guerra Mundial, Jay Garrick, não envelhece? São perguntas que podem ser trabalhadas em sala de aula, envolvendo não só o estímulo da imaginação como a compreensão dos conceitos envolvidos em fenômenos físicos, ao invés do simples domínio de fórmulas. Na edição 208 da revista americana The Flash, publicada em maio de 2004 (publicada no Brasil na edição 33 da Revista Liga da Justiça, em agosto de 2005), o herói-mirim Kid Flash derrota o vilão Trapaceiro utilizando o princípio da inércia. E para facilitar a compreensão do que estava fazendo, explicita ao vilão o enunciado da 1ª Lei de Newton durante a batalha! Não se trata de uma tentativa de tornar plausível a existência de superpoderes, mas de mostrar aos alunos como fazer as perguntas certas, estimulando a formação de um pensamento crítico que possa ser aplicável em outras situações. Há efeitos físicos secundários envolvidos no uso das superhabilidades de qualquer herói de revistas em quadrinhos. E é aí que reside o gancho que pode ser trabalhado em sala de aula: é um mito bastante comum dizer que somente um perito em matemática pode compreender e apreciar a física, assim como dizer que histórias em quadrinhos de super-heróis servem apenas como forma de diversão descompromissada ao público jovem.

Hqs e matermática

A pedido das professoras de matemática da E M Judith Lintz Guedes Machado (em especial a Neusa), estou disponibilizando alguns textos e dicas sobre o uso das hqs em matemática e outras ciências exatas. Segue o primeiro, retirado do www.cosmohq.com.br.

Matemática das HQs
Proporções, percentagens e até mesmo frações. Tudo isso é possível de ser ensinado ou, pelo menos, fixado por meio de exercícios práticos com histórias em quadrinhos. Como? Bom, primeiro basta mostrar ao aluno que é impossível desenhar a história no tamanho que ela é lançada. Na verdade, todo quadrinhista que se preza produz sua história em um formato bem maior do que aquele que acaba sendo publicado na revistinha ou nas páginas de jornais, afinal, é preciso desenhar uma série de detalhes que, por mais que sejam visíveis no tamanho publicado, seriam impossíveis de fazer naquele espaço. Ou seja, uma história é produzida em um tamanho maior e depois disso acaba sendo reduzida proporcionalmente para que seja publicada. O professor pode mostrar, então, uma tira de jornal (normalmente publicada com 14,5 de largura com 4,5 de altura) e explicar aos alunos que ela foi produzida em formato maior. Suponha, por exemplo, que um quadro de 4 cm de altura por cinco de largura, por exemplo, pode ter sido feito originalmente com 8 cm. por 10 cm.; 16 por 20 e assim por diante. Pode-se mexer aqui com proporções, porcentagens (o original é 100% maior, 200% maior e assim por diante) e até frações, mostrando a similaridade entre 20/16, 10/8, 5/4 e assim por diante. Um exercício que pode se propor aos alunos é pedir que produzam suas próprias tiras. O professor pode determinar o tamanho em que a tira seria publicada e pedir a cada aluno que produza uma tira em uma determinada proporção - duas vezes maior ou 35% maior e assim por diante. Ele pode pedir, anda, que o estudante verifique o tamanho da letra usada nos balões da tira original e que siga a mesma proporção na sua tira (afinal, a letra também é reduzida na publicação e, se o quadrinista não leva isso em conta, o diálogo vai ficar ilegível).
Segue, também, link com diversas questões de Questões de Ciências da Natureza & Matemática - UERJ:

Fonte: CBPF

Mais um livro sobre educação e quadrinhos


Parece além do livro de Waldomiro Vergueiro, temos um outro que aborda o uso das hqs nas escolas. Encontrei a resenha no site www.hqcosmos.com.br, de onde já retirei bons textos sobre ensino e quadrinhos. Vale conferir (eu pretendo comprar o livro e depois fazer meus próprios comentários). Segue o texto na íntegra.


Livro mostra como usar HQs em sala de aula e muito mais

Houve um tempo em que histórias em quadrinhos só entravam na escola se fossem escondidas no meio de um livro. E outro no qual “especialistas” do Ministério da Educação afirmavam que as HQs causavam “lerdeza mental”. Nos dias de hoje, porém, pesquisas indicam que a simples leitura de quadrinhos melhora a proficiência de alunos e, mais ainda, se bem utilizadas, elas podem ser uma forte aliada do professor em sala de aula. É o que defende – e explica como fazer – o cartunista e mestre em Educação DJota Carvalho, em A educação está no gibi, livro publicado pela Papirus Editora.


DJota, que também é professor de Teoria da Comunicação na PUC-Campinas e ministra palestras sobre como utilizar quadrinhos na escola há onze anos no projeto Correio Escola, conta no livro não só como o professor pode utilizar diretamente as HQs nas mais diversas disciplinas, como também faz uma mini-oficina ilustrada com dicas para produzir uma história em quadrinhos como trabalho multidisciplinar. “É possível usar Mônica e Cebolinha pra ensinar matemática, Super-heróis para Física e Química, quadrinhos Disney e Asterix para história, Xaxado e Príncipe Valente para geografia...não há limites. Na verdade, a única disciplina para a qual não achei uma forma de contribuir com as HQs é Educação Física. Por enquanto”, diz o autor.

Primeira página da HQ de apresentação, desenhada por Bira Dantas (clique para ampliar)
A educação está no gibi tem prefácio de Fernando Gonsales, autor da tira Níquel Náusea, e a apresentação do livro é uma história em quadrinhos de quatro páginas, desenhada pelo premiado cartunista Bira Dantas. "O Bira colocou tantos detalhes e personagens de quadrinhos nos cenários da HQ que só ela já vale o livro", diz DJota.


A obra tem sete capítulos, todos ricamente ilustrados, nos quais DJota primeiro explica um pouco sobre diferenças entre as artes gráficas (charge, cartum, HQs, tiras e caricaturas), depois fala sobre a história da HQ no Brasil e no mundo e, ainda, faz um histórico da conturbada relação entre HQs e educação no país.


“Achei importante contextualizar um pouco, para que o professor não caia de pára-quedas na história. Por isso mesmo, antes de entrar nos exercícios específicos, ainda falo um pouco sobre mangás, os quadrinhos japoneses que hoje em dia assustam muitos pais e educadores, e já ensino a fazer um exercício de português e estudo do folclore usando Dragon Ball, o mais popular dos desenhos do oriente”, conta.


Pato Donald como vítima do nazismo: quadrinhos refletem períodos da história e foram utilizados como armas de comunicação em diversas épocasIsso feito, o autor descreve vários exercícios utilizando HQs em matemática, português, física, biologia, inglês, química, literatura, geografia e história. Em geral, os exercícios propõe usar quadrinhos para explicar determinados conteúdos ou então mostrar como eles se inseriram em certos períodos e situações.
“São dois ou três exercícios por disciplina, às vezes mais. Há exemplos para uso no ensino infantil, fundamental e médio,e o professor pode fazer suas próprias adaptações ou até mesmo pedir ajuda, pelo e-mail disponibilizado no livro”, diz.


Por fim, no último capítulo, o autor dá dicas básicas, todas ilustradas, para professores e alunos produzirem histórias e até montarem um fanzine em sala, como atividade multidisciplinar. "Muitos professores tentam produzir uma história com os alunos em sala, mas sempre se defrontam com os mesmos problemas, como textos que não cabem em balões e a dificuldade em desenhar os quadrinhos, por exemplo. Por isso inclui uma mini-oficina no livro, para mostrar como superar estes problemas e transformar a atividade de fazer HQs em algo mais simples e divertido, mas ao mesmo tempo rico em conteúdo escolar”, diz.


Para DJota, as HQs são uma mídia atraente, financeiramente acessível e fácil de usar. "Tem gente que acha que quadrinhos são coisa de criança, mas eles são muito mais do que isso: são uma forma eficiente de melhorar o ensino e a relação professor/aluno”, conclui. O livro foi publicado pela Papirus Editora, tem 112 páginas e está sendo vendido a R$ 28,50.