sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Aulas mistas de leitura

Já comentamos em uma postagem anterior o trabalho que vem sido realizado pela professora de Língua Portuguesa, Mary Angela Carraro Dibo, com alunos da sexta série. Ela tem regularmente levado alunos à gibiteca para aulas de leitura. Pois bem, a experiência foi tão boa que as aulas mudaram radicalmente. Alunos inquietos e desatentos estão participando mais e cobrando da professora os momentos de leitura na Gibiteca. Hoje a professora resolveu levar para a sala de aula, a pedido dos próprios alunos hqs e livros. Eu fiquei até emocionada com o que vi: uma turma com o passado problemático, com alguns alunos repetentes que nunca tiveram interesse nas aulas, transformada em um grupo de leitores atentos, devorando ávidamente as páginas de livros de de quarinhos. Parabéns à professora e aos alunos também. Eles estão nos mostrado como a leitura pode mudar a rotina da escola e como ela pode transformar também as pessoas. Veja abaixo mais fotos dos nossos alunos!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Persépolis: uma história de vida em quadrinhos

Já falamos de biografias de personagens famosos, agora é a vez de falar de um outro gênero: a autobiografia em quadrinhos. Os quadrinhos autobiográficos são o gênero que mais representa, hoje, os quadrinhos alternativos, especialmente nos Estados Unidos. O ato de se revelar perante o público, expor sua história pessoal, mostrar seus pensamentos e sentimentos, é único para cada autor. Cada HQ é diferente da outra – não somente pela história, é óbvio, mas principalmente pela forma de contá-la.

E não pensem que são apenas as pessoas famosas que recorrem a este gênero dos quadrinhos para publicar suas histórias de vida. Não mesmo! Pessoas comuns, como eu e você que tiveram sua vida marcadas por experiências boas e ruins, encontram na autobiografia um forma de refletir sobre sua vida, compartilhar passagens dela com outras pessoas e, por que não dizer, superar traumas passados, não apenas escrevendo sobre eles mas, especialmente, representando-os através do desenho.

A autobiografia em quadrinhos que talvez tenha tido a maior repercussão nos últimos anos foi a da iraniana Marjane Satrapi que viu seu país ser completamente transformado a partir de 1979, com a revolução islâmica. Para contar sua história ela publicou Persépolis. Ela tinha 10 anos, teve que trocar se escola, usar véu e parar de estudar francês. Não podia usar jeans, ouvir rock ou usar um par de tênis. Seus pais, que intelectuais liberais – além de terem apoiavam o governo anterior - passaram a ser perseguidos e ela presenciou os horrores da guerra, quando uma bomba caiu em seu bairro. Mas como nem tudo são lágrimas, a história também mostra momentos de descontração em família e até passagens cômicas, envolvendo a autora.

Persépolis foi lançado na França, em 2001, por uma pequena editora independente. Tornou-se um fenômeno de crítica e público. No mesmo ano, o primeiro volume ganhou o importante prêmio do Festival de Angoulême, na França. Persepólis foi considerada a melhor história em quadrinhos de 2004 pela Feira do Livro de Frankfurt. O sucesso de Persepolis, foi tão grande que a série (que tem 4 partes) teve os direitos de publicação vendidos para Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Israel, Suécia, Finlândia, Noruega, Japão, Coréia do Sul, Hong Kong, Turquia e Estados Unidos, inclusive o Brasil, onde foi publicada pela Companhia das Letras. Persepolis foi transformado em um longa de animação, dirigido pela própria e por Vincent Paronnaud, vencendo o Festival de Cannes deste ano, que se encerra neste fim de semana. Persepolis é uma história de vida e uma aula de história.

Para quem quer mais informações, Flávio Calazans fez comentários interessantes sobre a obra, no link: http://www.revistaetcetera.com.br/old/14/visuais/satrapi1.htm, além disto há um site oficial da série, cujo link é http://www.sonyclassics.com/persepolis/

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Quadrinhos: ganhando mais espaço na imprensa

Excelente notícia que eu li no Blog dos Quadrinhos e que achei importante citar algumas partes aqui, pois reforça o que temos defendido no blog e na nossa prática docente.

Discurso sobre quadrinhos na mídia impressa começa a mudar

(...)

A revista "Época" da semana passada trouxe uma matéria sobre a chamada literatura em quadrinhos. Segundo a reportagem, os novos "reis do mundo" não são Super-Homem ou Hulk, e sim Machado de Assis e Eça de Queirós (alusão às adaptações de "O Alienista" e "A Relíquia", lançadas neste ano). A "IstoÉ" -também da semana passada- trouxe uma matéria de duas páginas a respeito do mesmo assunto: a ida dos quadrinhos às livrarias.

(...)

A revista "Língua Portuguesa" deste mês traz uma reportagem de seis páginas sobre o jornalismo em quadrinhos, gênero que ainda se firma e que tem no jornalista maltês Joe Sacco o principal representante. A matéria, feita por Luiz Costa Pereira Junior, é representativa por dois motivos: 1) é uma das mais completas sobre o assunto; 2) leva o tema "quadrinhos" a um universo de leitores que tradicionalmente não acompanha quadrinhos. O maior exemplo, no entanto, foi visto no último domingo. E também sobre jornalismo em quadrinhos. A "Folha de S.Paulo" publicou 16 páginas em quadrinhos feitas por Joe Sacco.

A reportagem em quadrinhos foi veiculada no "Mais!", caderno voltado a literatura e artes. O caderno é lido principalmente pelo grupo rotulado como "formador de opinião", que, embora pequeno, influencia o modo como outros enxergam temas artísticos.

A presença da história de Sacco no caderno repercutiu, dentro e fora do jornal.

Pessoas que historicamente ignoravam quadrinhos passaram a noticiar o tema.

(...)

Os quadrinhos historicamente foram o "patinho feio" das artes nos cadernos de cultura dos jornais, tidos como formadores de opinião.

"Formadores" porque fazem um recorte de tudo o que é produzido em termos artísticos dentro e fora do país e o leva até o leitor, na forma de notícia.

( ... )

Do que se pode ver no calor dos acontecimentos, não se trata de um reconhecimento tardio ou algo do tipo.

O ponto é que os quadrinhos tomaram posse de dois aspectos valorizados pelos "formadores de opinião".

O primeiro foram as livrarias.

(...)

O outro ponto é que os quadrinhos se vincularam a três rótulos pra lá de prestigiados em todos os âmbitos sociais: educação e, principalmente, jornalismo e literatura.

Aos olhos do formador de opinião e do novo consumidor, não se trata de quadrinhos feitos com viés jornalístico. É exatamente o contrário. É jornalismo produzido em quadrinhos.

Destaca-se em primeiro lugar o teor jornalístico, valorizado socialmente, tido como "sério". Os quadrinhos vêm em segundo plano, acompanhando o rótulo "principal". Há uma sensível diferença.

(....)


Uma das discussões que sempre nortearam a área era se quadrinhos eram literatura ou uma linguagem autônoma (embora com um claro diálogo entre as duas formas de arte).

Sempre defendi que associar quadrinhos à literatura era uma forma de buscar um rótulo socialmente aceito e prestigiado -a literatura- para justificar a aceitação dos quadrinhos.

Ironicamente, foi o que ocorreu. Corrigindo: que está ocorrendo.

A apropriação dos termos "literatura" e "jornalismo" ajudou a furar o bloqueio invisível da mídia impressa, que dá sinais de que começa a ver os quadrinhos como "algo sério".

Não pelos quadrinhos em si, mas pelas livrarias, pela educação, pelo jornalismo, pela literatura.

Não deixa de ser relevante.

E é uma porta de entrada para que outros gêneros dos quadrinhos sejam, enfim, descobertos.




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Gostaria de acrescentar que, no que se refere ao espaço acadêmico e à educação, os quadrinhos também têm ganhado cada dia mais força, seja nas dissertações de mestrado ou mesmo monografias produzidas sobre o tema, seja nas oficinas e livros que têm sido lançados incentivando o uso dos quadrinhos nas salas de aula.
No caso da História eu posso citar, como exemplo, os textos de Gonçalo Jr, publicadas em revistas especializadas, textos meus sobre o ensino de história através dos quadrinhos – um publicado no início do ano passado, em uma revista de História de circulação nacional, outro a ser publicado ainda este ano, sobre Revolução Francesa nos quadrinhos, além de reportagens especiais em revistas serias, principalmente por época do centenário do Tico-Tico.


A questão é que a imprensa está dando mais importância aos quadrinhos e o debate sobre seu uso nas escolas e mesmo como objeto de pesquisa científico tem se espalhado por diversos segmentos acadêmicos, não limitando-se mais aos curso de comunicação. Aliás, o interesse sobre o tema é real. Quando eu e Valéria Fernandes nos arriscamos pela primeira vez a inscrever e apresentar comunicações sobre Quadrinhos em um encontro da ANPUH (Associação Nacional de História), em 2004, , ficamos agradavelmente surpresas com a quantidade de pessoas que compareceram à nossa apresentação e que demostraram real interesse pelo tema.

Para quem se interessar e quiser saber outros dados, o texto integral pode ser lido no Blog dos Quadrinhos, http://www.blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/

sábado, 25 de agosto de 2007

Che Guevara em quadrinhos

”Sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça praticada contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Essa é a qualidade mais linda de um revolucionário.”

A História, enquanto disciplina escolar, parece ter sido a maior beneficiada com as recentes publicações de quadrinhos, ainda mais quando se trata do gênero biográfico. De alguns anos para cá estão sendo elaboradas biografias de personagens históricos que podem ajudar a enriquecer ainda mais as aulas de História – no blog já citamos o caso de Debret, Santos Dumond, e há ainda outros personagens da história cuja a vida ou partes dela estão sendo adaptadas para HQs. O biografias históricas em quadrinhos não são necessariamente uma novidade. A Ebal já publicava HQs com heróis nacionais há 50 anos atrás. A novidade é que as novas HQs, que estão invadindo lentamente o mercado dos quadrinhos, possuem um olhar mais contemporâneo sobre os personagens e uma linguagem mais atual.

É o caso da biografia em mangá do médico revolucionário argentino Ernesto Guevara de la Serna, de autoria do sul-coreano Kim Yong-Hwe, publicado no Brasil pela Editora Conrad. O guerrilheiro nascido a 14 de junho de 1928 e assassinado pela CIA em 1969 teve partes de sua vida e história de luta transpostos para as páginas de um mangá, ou manhwa (quadrinho coreano). Kim Yong-Hwe realizou uma profunda pesquisa para elaborar este trabalho, deixando clara sua paixão pelo personagem. A obra retrata as origens e as qualidades do herói latino-americano, que luta contra o imperialismo dos EUA. Ela é carregada de fatos sobre a vida de Che, sendo muito informativa, mas possui uma visão romanceada do homem, valorizando ainda mais o mito.

Argentino de Rosário, Ernesto nasceu numa família burguesa e foi por muito tempo sustentado pelo pai que era arquiteto. Formado em medicina, partiu com o amigo Alberto Granados por uma viagem de motocicleta pela América Latina, quando começou a entender os mecanismos que regem a dependência entre os países subdesenvolvidos da região e os Estados Unidos – fase de sua vida que foi retratada no filme “Diários de motocicleta". Aliás, os momentos iniciais da biografia retratam este período, em Che circulou a América do Sul de motocicleta acompanhado de seu amigo e também médico Alberto Granado serão familiares.


Suas viagens e experiências pessoais acabaram conduzindo-o à militância política, revoltado com a brutalidade da ação norte-americana em território estrangeiro, Che decide optar pela revolução como única forma de libertar a América Latina. Depois de conhecer Fidel Castro no México, em julho de 1955, resolve juntar-se aos insurgentes cubanos – e em novembro do ano seguinte é um dos comandantes da milícia armada que se instala em Sierra Maestra e que termina por derrubar o ditador Fulgencio Batista em 1959.

Che torna-se embaixador dde Cuba e viaja pelo mundo tentando encontrar países que possam ser aliados ao novo regime instalado na ilha – foi durante essas viagens que Che recebeu a Ordem do Cruzeiro do Sul em 1961, do então presidente brasileiro Jânio Quadros. Infelizmente ele não ficou satisfeito como a morosidade da carreira diplomática e acabou voltando a ser um simples guerrilheiro. Guevara acabou sendo capturado, faminto e desamparado, nas selvas da Bolívia e executado pela CIA em 09 de outubro de 1967.

Estas e outras passagens são contadas na HQ que possui uma finalidade didática: apresentar o mito ao público jovem, que veste suas camisas, reproduz suas frases, mas muitas vezes não conhecem a sua história. Apesar das lacunas e da parcialidade que possui, uma vez que só mostra o lado bom do mito, omitindo a suas falhas, a HQ é importante ao contextualizar este período tão marcante da história da América Latina e por levantar questões importantes sobre o imperialismo e suas conseqüências para a população latino-americana.
Para quem quer mais informações, Matheus Moura tem uma resenha sobre esta obra no site Bigorna .

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Agatha Christie em quadrinhos

Uma notícia particularmente me deixou entusiasmada esta semana: A editora norte-americana HarperCollins vai lançar uma série de graphic novels baseadas npos livros de mistério de Agatha Christie. Todas as 83 obras literárias da Rainha do Crime serão adaptadas para os quadrinhos. Os primeiros 12 álbuns serão lançados agora em setembro e o restante em 2008. O lançamento coincide com o Agatha Christie Week, que ocorre de 9 a 15 de setembro, celebrando os 31 aos da morte da escritora.

Eu sou uma fã declarada dos livros de mistério de Agatha Christie. Devo ter lido quase todos durante a minha adolescência e acho difícil dizer quais são os melhores. Suas obras fora adaptadas para a televisão, o cinema, o teatro e para os quadrinhos. Bom, pelo menos uma, que eu li e que temos na Gibiteca: Assassinato no expresso do Oriente.

A idéia é atrair mais leitores jovens para a obra da destacada autora inglesa.Entre os títulos que serão publicados no próximo mês estão: "Assassinato no Expresso Oriente", "Morte na Mesopotâmia" e "Primeiros casos de Poirot". Durante a "Semana Agatha Christie", serão comemorados os 70 anos da publicação de "Morte no Nilo", com a projeção do filme baseado na obra, protagonizado por Maggie Smith.

Christie nasceu em 1890 nessa tranqüila cidade no sudoeste da Inglaterra e morreu em Londres, em 1976. Seu primeiro livro - com o personagem Hercule Poirot - foi publicado em 1920. A autora publicou 66 romances, 154 contos e 20 peças em uma carreira de 50 anos. Agatha Mary Clarisse Christie foi essencialmente uma escritora de romances de mistério mas chegou também a escrever livros românticos sob o pseudônimo de Mary Westmacott.

Seus livros venderam mais de um bilhão de exemplares em língua inglesa e outro um bilhão em mais de 45 idiomas. Sua obra de teatro "La Ratonera" (baseada em seu relato Three Blind Mice and Other Stories) tem o recorde de permanência em cartaz em Londres, com mais de 20 mil apresentações desde sua estréia no teatro "Ambassadors" no dia 15 de novembro de 1952 até hoje.

Christie publicou mais de oitenta romances e obras de teatro, principalmente sobre assassinatos misteriosos e com a presença de dois de seus personagens principais, Hercules Poirot e Miss Marple. Alguns de seus livros mais famosos foram "O misterioso caso de Styles" (1920), "Assassinato no campo de golfe" (1923), "Poirot Investiga" (1924), "O mistério do trem azul" (1928), "Os treze problemas" (1933), "Assassinato no Expresso Oriente" (1934), "Morte na Mesopotâmia" (1936), "Morte no Nilo" (1937) e "Primeiros casos de Poirot" (1974).

Segundo estimativas um bilhão de cópias de livros de Agatha Christie já foram vendidas em inglês. Apenas William Shakespeare já foi mais lido que a autora, segundo o Livro Guinness dos Recordes. Agatha, que morreu em 12 de janeiro de 1976, já teve sua obra traduzida para mais de 70 idiomas.

A adaptação do Assassinato no expresso do Oriente, em português, pode ser encontrada em boas livrarias e em lojas especializadas em quadrinhos. Pesquisando sobre o notícia eu me deparei com um site dedicado a esta escritora – em português - , criado por fãs e que me pareceu muito legal, a primeira vista. Para quem estiver interessado, o linlk é http://acbr.luky.com.br/index.php

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Dedret em Quadrinhos

Estou sempre colhendo material que acho que seja interessante para meu trabalho com HQs e para posta no blog. Hoje, durante uma destas pesauisas encontrei uma notícia que vai agradar a muitas pessoas, acho. Um lançamento de HQ que pode ser usada no Ensino de História. Trata-se de uma HQ que retrata vinda de Debret ao Brasil, abordando o período em que o pintor francês morou no país e mostrava corte portuguesa, produzida pelo quadrinista Spacca, o mesmo que lançou "Santô e os Pais da Aviação", biografia de Santos-Dumont - aliás, nós temos Santô na Gibiteca, mas me faltou tempo para ler e resenhar a obra. A Hq foi lançada em dezembro de 2006, pela Companhia das Letras.

O título da HQ é "Debret em Viagem Histórica e Quadrinhesca ao Brasil". Jean-Baptiste Debret morou no Brasil, de 1816 a 1831. Veio com uma missão de artistas franceses, a convite de D. João VI, algum tempo depois da queda de Napoleão. Debret ilustrou cenas da corte portuguesa, reproduzindo em suas obras momentos marcantes da nossa história como a aclamação de D. João VI ao reinado, em 1818, a coroação de d. Pedro 1º, em 1822, e a renúncia deste em favor de seu filho, d. Pedro 2º, em 1831. De 1834 a 1839 ele publicou, em três volumes, "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", retratando o dia-a-dia brasileiro: paisagens, índios, escravos, condecorações e cenas da sociedade carioca.

“Aqui, Spacca nos mostra como a queda de Napoleão tornou a situação política dos que o apoiavam insustentável - o que acabou por motivar a aventura tropical de Debret -, além das intrigas e rixas da incipiente vida artística do Rio de Janeiro. Com prefácio, cronologia, bibliografia e galeria de obras, o livro é uma introdução ao tema da história da arte no Brasil, mas não pára por aí. O traço de Spacca conta, sem perder o humor, os atrasos de anos na criação da Academia de Belas Artes, a rivalidade com o grupo dos artistas portugueses e os ataques de ambas facções. Contada por um cartunista, a história de Debret no Brasil fecha um ciclo: através de seu discípulo predileto, Manuel de Araújo Porto Alegre, autor da primeira caricatura impressa no Brasil, Debret também é o mestre dos cartunistas brasileiros.”[1]

A HQ em si possui 18 páginas, tendo ainda os esboços feitos pelo quadrinista para preparar os personagens. A edição, também, traz prefácio assinado pela historiadora Elaine Dias, cronologia, bibliografia e galeria (grande parte reproduzida a partir das obras originais dos Museus Castro Maya). Não é uma biografia de Debret, mas mostra sua presença em eventos importantes da nossa história, durante os 15 anos que viveu no Brasil. Eu particularmente estou curiosa para ler e poder usar este material nas minhas aulas sobre Brasil Império. Quem é professor de História sabe como é difícil ter em mãos um material deste tipo, ainda mais um história relativamente curta, que pode ser lida e comentada durante uma aula.

Pesquisando mais sobre a HQ, eu encontrei uma resenha interessante no link http://www.poppycorn.com.br/artigo.php?tid=1490, de Afonso Rodrigues e encontrei, também, uma resnha feito por Matheus Moura e publicada no site Bigorna.net http://bigorna.net/index.php?secao=lancamentos&id=1184216451
Confiram!

[1] http://www.planetanews.com/produto/L/131387/debret-em-viagem-historica-e-quadrinhesca-ao-brasil-spacca.html

sábado, 18 de agosto de 2007

Festa do Folclore e acervo da Gibiteca

Ontem foi realizada a Festa do Folclore da escola. Um grande sucesso, sem exageros. As famílias da comunidade apareceram em peso e ficaram presentes até o final, assistindo a apresentações de grupos folclóricos locais, como o Assum Preto e o meninos e meninas que participam do projeto Sons da Mata, que apresentaram danças folclóricas do Sul e de Minas Gerais. Tudo muito bonito e muito bem organizado. As crianças fizeram a festa, com as apresentações dos alunos do ensino infantil, de cantigas de roda teatralizadas e de pequenos números de dança, inclusive com a participação do Bumba-meu-boi.

Entre as barraquinhas de doces e salgados da escola, a Gibiteca contou um cantinho. Eu, a professora Sheyla e alguns alunos muito prestativos conseguimos vender saquinhos de guloseimas na festa, confeccionados a partir de doações gentilmente feitas por comerciantes e membros da comunidade. Com o dinheiro arrecadado já compramos vários números de uma série de mangá que estava incompleta e ainda recebemos a notícia de que poderemos completar outra, graças à boa arrecadação que a escola teve com a festa.

A nossa Gibiteca foi montada e sobrevive a partir de doações. No entanto, nem sempre recebemos séries completas. Alguns alunos se tornaram fãs de personagens e, como é normal, querem saber como as histórias vão acabar. Pensando nisto, vamos começar a partir deste mês a realizar pequenas promoções com a finalidade de tentar completar estas coleções, especialmente as de mangás. Os mangás estão tendo uma grande aceitação entre os alunos, principalmente os shoujos. As séries que têm sido mais lidas são Video Girl AI e Sakura Card Captors.

Ainda melhor do que ter conseguido recursos foi peceber o entusiasmo dos alunos que nos ajudaram, abrindo mão de estar entre os colegas na festa para vender as guloseimas. Creio que isto mostra que a Gibiteca está se tornando algo importante para a escola e os alunos.

Enfim, não podemos de deixar de registrar nossos agradecimentos às lojas Dose pra Cachorro, Evandro Jóias, a locadora Planet DVD, ao restaurante Cheiro Verde, ao bar e lanchonete Vitaminas do Brasil, ao escritório de contabilidade Contag e à professora Maysa Fajardo, do Cefet que nos patrocinaram.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Quadrinhos: seu uso cotidiano

Esatava lendo alguns texto no Pop Balões e gostei muito de um, escrito por Wallace (Wally) Silva, de quem eu já tinha lido outro texto naquele site. Gosto muito da forma direta com que ele fala sobre o uso dos quadrinhos na sala de aula, e achei interessante reproduzir o texto aqui (espero que o autor não se importe).

Fórmula química dos quadrinhos e seu uso no cotidiano educacional


Quem de alguma forma trabalha com crianças e adolescentes já viu que as histórias em quadrinhos têm uma grande receptividade na vida dos jovens, principalmente hoje com o fenômeno do mangá (quadrinho japonês). Se perguntarmos a professores o que acham dos quadrinhos em sala de aula, muitos defenderão a idéia e até falarão da experiência que já tiveram. Mas a questão é: Se perguntarmos a nós mesmos “qual a definição de quadrinhos?”, será que a resposta não seria vaga? Provavelmente baseada em exemplos de infância ou personagens conhecidos na mídia.

Não é difícil ver os quadrinhos como uma arte-comunicativa. O problema é que parte de nossa cultura inferioriza os quadrinhos a ponto de não termos muitas bases para tirar nossas conclusões. Às vezes a resposta para a definição de quadrinhos é vaga, resultado de um conceito mastigado por educadores ou críticos. Mais ou menos como a criança que decora que a formula química H2O é água, mas não tem a mínima idéia do significado de átomos, hidrogênio ou oxigênio.

Existe uma explicação para a fórmula dos quadrinhos? Com certeza!
O autor e quadrinista Will Eisner define quadrinhos com o termo arte-sequencial. A partir de Eisner temos também uma definição mais elaborada, de que particularmente eu gosto muito, feita por Scott McCloud: “Imagens pictóricas e outras justapostas em seqüência deliberada, destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no espectador.”

Quando tomamos essas duas definições podemos afirmar que o conceito por trás dos quadrinhos já fazia parte da história da humanidade, muito antes da própria invenção da imprensa e até mesmo da palavra escrita ou falada. Desde o período paleolítico as ações reais ou imaginárias já eram gravadas em seqüências de imagens que serviam, segundo alguns historiadores, para evocar a sorte na caça (talvez nossos ancestrais estivessem só entediados, mas quem vai saber?).


O uso da arte seqüencial como meio de comunicação prossegue por toda história da humanidade e se mostra notório em várias culturas. Egípcios, pré-colombianos, pré-cambrianos, indianos, chineses e europeus da idade média são algumas das sociedades que usavam a imagem e/ou o texto para transmitir mensagens ideológicas, políticas ou religiosas a seus componentes.

No Brasil o valor dado aos quadrinhos pelo grande público e por uma parte dos professores é apenas de entretenimento. Porém sua aplicação é muito mais ampla do que a usada atualmente, principalmente no que se refere às salas de aula, onde por muitas vezes é colocada mais como "uma curiosidade" ou "expressão artística menor" do que como objeto educacional que pode ser usado tanto na vida escolar como na vida cotidiana, mesmo porque as duas estão associadas.

Muitas vezes, quando procuramos exemplos de uso dos quadrinhos como instrumento educacional o que encontramos é quase sempre o uso de imagens de tirinhas de jornal chamando atenção para um assunto especifico. Mas em uma análise mais detalhada do "corpo" de uma história em quadrinhos, que não é limitada a tiras de jornais, podemos encontrar mais do que a estética como ponte para questões, digamos, acadêmicas.

O uso como ponte para um assunto como geografia ou física é válido, mas muito limitado. É como usar um bisturi para descascar laranja. Uma história em quadrinhos não é composta simplesmente por imagem/texto, mas também de outros signos, oralidades e ideologias formando um complexo meio de comunicação. Dessa maneira através do estudo básico e da produção dos quadrinhos podem ser inseridos temas como produção e argumentação de textos, conhecimento de códigos e linguagens, além de uma infinidade de conceitos artísticos, filosóficos e qualquer outro tipo de informação.

O texto original está no link http://www.popbaloes.com/mats/hqnasala2.htm, lá também há outros textos deste autor e e-mail para contato.

domingo, 12 de agosto de 2007

HQs e folclore

Esta semana teremos na escola a Festa do Folclore e, para poder marcar a data eu resolvi fazer um apanhado sobre a presença do folclore nas HQs brasileiras. Não é exatamente uma tarefa fácil afinal o mercado editorial nacional é dominado pelos quadrinhos estrangeiros, mas até que o resultado não foi decepcionante.

Vamos começar com a Turma do Xaxado, de Antônio Cedraz. Cedraz lançou HQs da Turma do Xaxado onde estão presentes elementos do folclore brasileiro. Já citamos em textos anteriores algumas delas, como Lendas e Mistérios, onde o folclore brasileiro é representado por personagens populares como a Mula-sem-cabeça, Caipora, Saci, Negro d´água e a Velha da Mata; e Histórias do Saci, que traz tiras, história em quadrinhos e curiosidades sobre o Saci, abordando temas como ecologia, discriminação racial e valorização da cultura brasileira. Outra publicação da Turma do Xaxado é a Caixa de pai Dorá, da coleção histórias fantásticas, que conta a história de um homem, o Pai Dorá (que representa a cultura norte-americana),que rouba a memória cultural do povo e a guarda em uma caixa. Xaxado tem que pegar a caixa e libertar a cultura popular. Uma história encantadora, simples, mas cheia de significados.

A Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, também utiliza elementos ou personagens do nosso folclore em suas aventuras. Nas HQs do personagem Chico Bento, por exemplo, crendices populares estão constantemente presentes. Personagens como a Iara, do lobisomem ou a Mula-sem-cabeça, assim como festas juninas e pratos típicos são citados em suas histórias. Maurício de Souza produziu uma edição da Turma da Mônica especial sobre folclore que pode ser acessada pelo site http://www.monica.com.br/comics/folclore/welcome.htm.

Não podemos esquecer da Turma do Sítio do Pica-pau-amarelo, adaptação para quadrinhos da obra de Monteiro Lobato. Monteiro Lobato resgata aspectos da cultura popular em sua obra e, atualmente, os seus personagens ainda contracenam, na TV e nos quadrinhos, com seres místicos do folclore brasileiro como a Cuca, o Saci, a Iara e a Mula-sem-cabeça. Nas HQs do Sítio, podemos encontrar muitas informações sobre o folclore, em meio às aventuras de Pedrinho, Narizinho, Emília e Visconde. Hqs as turminha do Sítio são usadas constantemente em campanhas do governo, e estas HQs distribuídas gratuitamente nas escolas públicas de todo o Brasil .

Outra HQ inspirada no folclore brasileiro é a Turma do Pererê, Criado por Ziraldo, ano 1959. A revista explodiu na década de 60: foi publicada mensalmente de outubro de 1960 a abril de 1964. A tiragem, em média, foi de 120 mil exemplares. As histórias se passavam na "Mata do Fundão", que seria, na verdade, o próprio Brasil. "Os bichinhos heróis dessas aventuras são figuras clássicas da lenda brasileira. Toda história que a mãe preta, o avô contador de caso ou as tias mais amorosas contaram para seus meninos, seus netos ou seus sobrinhos foram povoadas pelo coelho ou pelo macaco, pelo tatu e o jaboti, pela onça e pela coruja, com sua sabedoria. Aí, inventei de juntá-los todos em volta do Saci-Pererê e arrumar mais gente para contracentar com eles: um indiozinho, duas meninas lindas, dois caçadores, e alguma maluquice."[1] O MEC distribuiu recentemente álbuns da Turma do Pererê para bilbiotecas de escolas públicas. Esta HQ não é voltada necessariamente para o folclore, mas ela valoriza a cultura popular e tudo aquilo que se refere ao Brasil, estando sempre presente uma crítica política e social, característica do contexto em que o personagem surgiu.

Para quem gosta de aventura e muita ação a Via Lettera publicou em 2005 o álbum nacional Jaguara: guerreira e soberana, criação de Altemar Domingos, que narra a vida da guerreira Jaguara, a protetora de Jaguaretama (Vale da Onça), um lendário local do Amazonas conhecido por pouquíssimos índios. Após a morte de seu pai, Aguaratã, Jaguara assumiu seu lugar liderando os Krenakores (Índios gigantes), lutando para resgatar a honra da tribo após o grande massacre imposto pelos inimigos Caetés. Agraciada pelo deus Nhanderubussu com a milenar lança Tupã, deve reinar em absoluto em todo Jaguaretama e lutar contra as forças de Jurupari (Diabo indígena), que pretende dominar o Vale e destruir a lança, única arma capaz de subjugá-lo. Para isso, liberta seus demônios, aprisionados na Terra Proibida. Seres do nosso folclore como Saci, Lobisomem, Mula-sem-cabeça, Yara, Curupira, Cobra-norato estarão no encalço da bela guerreira em batalhas assustadoras e inesperadas.

Há também na obra do mestre dos quadrinhos nacionais, o saudoso Flavio Colin (1930 - 2002). Sua obra sempre se notabilizou por tratar de temas e personagens brasileiros. Vou citar duas que incluem em seu roteiro elementos do nosso folclore. A primeira, que está sendo republicada pela Conrad é Estórias Gerais, onde o autor trabalha a questão do cangaço, dando espaço para “causos” e crendices populares. A outra HQ foi lançada em 2006 pela Pixel, O Curupira. Ela utiliza a lenda de nosso folclore para mostrar diversas facetas dos grandes problemas ambientais que o nosso país enfrenta. Curupira, criatura de cabelos vermelhos cor-de-fogo, tem pés ao contrário para enganar caçadores que o perseguem e adora sentar em árvores para comer seus frutos. Protege as matas e seus habitantes, defende a fauna, a flora e pune os agressores da natureza - caçadores e empresas clandestinas. As aventuras do Curupira ainda incluem outros personagem do nosso folclore como a Onça-pé-de-Boi e o Jurupari.

E não podemos esquecer das HQs educativas que utilizaram elementos do nosso folclore para passar sua mensagem. Uma delas, que já foi citada aqui no blog é Jogue Limpo com seu Amigo, onde o Bumba-meu-boi dá dicas de prevenção ao câncer.[2] Se você conhece outra HQ nacional que utilize elementos do folclore nacional, comente aqui!

[1] http://ziraldo.com/livros/perere.htm
[2] http://gibitecacom.blogspot.com/2007/06/HQ-educacional-ensina-prevenir-o-cancer.html

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

As histórias em quadrinhos no contexto escolar e acadêmico

O texto que segue é parte do artigo "O papel do gibi no processo de apredizagem, na afetividade e nas emoções", de autoria do psicólogo, fundador e coordenador da Gibiteca UCDB, Ronilço Cruz de Oliveira (reproduzido com autorização do autor). Trata-se de parte de um relatório de pesquisa que teve como objetivo analisar qual o espaço que as HQs ocupam no processo de aprendizagem, afetividade e emoções da criança.


As histórias em quadrinhos no contexto escolar e acadêmico

Várias pessoas não entenderam no inicio como os gibis iriam fazer parte de instrumento de pesquisa, investigação e atuação em psicologia em uma universidade, principalmente devido ao grande preconceito que até então existia em relação a esse tema. Waldomiro Vergueiro (Núcleo de Pesquisas de Histórias em quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 1998) afirma que "Quadrinhos e Universidade realmente nem sempre fizeram uma dupla lá muito dinâmica". Waldomiro comenta que os intelectuais universitários até pouco atrás tinham a tendência de "amarrar" o nariz para os produtos da indústria de massa. Custaram a aceitar meios de comunicação de impacto mundial incontestável, como o cinema ou o rádio, demorando para acreditar que eles pudessem apresentar um objeto de estudo digno para os bancos acadêmicos ou que pudessem oferecer como resultado verdadeiras obras de arte.

A ciência, em conseqüência a universidade, tem que se ocupar apenas com coisas importantes e que levem a pensamentos profundos, diziam os intelectuais (e muitos ainda dizem). "Gibi"? Isso é coisa de criança. É totalmente supérfluo, que se lê e joga fora. Como se pode dar valor para algo que é produzido aos milhares, em "papel vagabundo", cheio de desenhos de gosto inacreditáveis, de personagens que usam roupas espalhafatosas? Até pode representar um produto interessante para os outros, mas... enfim, história em quadrinhos não é coisa séria", afirma Vergueiro (1998, Pag. 78). E com isso colocavam um ponto final no assunto. As historias em quadrinhos, definitivamente, não pertenciam ao ambiente universitário.

Felizmente isso mudou um pouco, afirma Vergueiro, porém, nem todo o ranço acadêmico foi eliminado, é claro, mas já é mais fácil encontrar-se, nas universidades do mundo inteiro, professores interessados nas histórias em quadrinhos, que realizam e orientam pesquisas, ministram disciplinas sobre elas e realizam um contato muito frutífero com produtores e consumidores desse meio de comunicação de massa, ajudando a ampliar a compreensão sobre as particularidades e potencialidades do meio.

Este movimento de absorção das histórias em quadrinhos pelo ambiente acadêmico começou em fins da década de 60 e início da de 70, quando alguns interessaram-se pelo assunto e passaram a abordá-lo sob o ponto de vista semiológico, histórico, estético, etc. A partir daí, as historias em quadrinhos passaram a ser um pouco melhor vista pelos acadêmicos.

Segundo Waldomiro Vergueiro o Brasil de uma certa forma, foi pioneiro nesse aspecto, pois foi aqui que mais precisamente na Universidade de Brasília, que foi criada a primeira disciplina sobre Histórias em Quadrinhos em um curso de graduação, ministrada pelo professor Francisco Araújo, que até hoje continua trabalhar com esse assunto em curso de terceiro grau. Foi no Brasil também, que uma das primeiras pesquisas sobre quadrinhos foi realizada em ambiente universitário, coordenada pelo professor José Marques de Melo, na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Foi nessa mesma escola, ligada ao Núcleo de Pesquisas em Histórias em quadrinhos, que surgiu mais de 20 anos depois, o primeiro curso de Especialização em Quadrinhos, durante a década de 90 (que infelizmente, deve curta duração).

A universidade pode representar um ambiente privilegiado para a criação de quadrinhos, principalmente poder trabalhar com aspectos de vida do povo brasileiro, podendo promover uma ampla avaliação do pensamento, expressar sentimento e principalmente sendo válvula de escape para a criatividade e emoções dos alunos desta universidade.



Para ler todo o artigo, e aproveitar para conhecer o trabalho feito pela Gibiteca UCDB é só ir em http://www.ucdb.br/gibiteca/experiencia.php


segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Informatizando a Gibiteca!

Uma boa notícia: estamos informatizando a Gibiteca. Recebemos a doação de um computador com impressora (usados) de doadores particulares e estamos negociando a doação de um outro computador com o CEFET. Eles serão inicialmente, para uso e consulta dos professores e para controle do acervo da Gibiteca. Mas não vamos parar por aí: estamos recebendo algumas ofertas de outras pessoas interessadas em ajudar a escola e existe uma boa chance de recebermos mais alguns computadores usados como doação.

A Gibiteca terá seu próprio laboratório de informática onde iremos fazer um trabalho de democratização da informática na escola, dando treinamento inicialmente a professores depois promovendo pequenos cursos e oficinas com os alunos. A grande maioria dos professores da escola não tem acesso ao uso de computadores e/ou não sabe como usá-los, por isto estamos pensando em promover um pequeno curso de introdução à informática especialmente voltado ao corpo docente da escola. Para tanto estamos começando a firmar parcerias com o CDI e o CEFET. O equipamento é usado, tem pouco valor de mercado, mas está em bom funcionamento e irá facilitar muito o trabalho dos professores, além de trazer oportunidade maiores de aprendizagem para os alunos. Se tudo correr bem, até o fim do ano teremos este novo projeto, como uma ramificação da Gibiteca Escolar e poderemos promover o desenvolvimento de quadrinhos digitais com nossos alunos, desde a educação infantil.
Aqueles que quiserem contribuir com mais esta iniciativa da gibiteca, pode entrar em contato conosco pelo tel da escola: 32 3694 4269 e tratar diretamente com a diretora (Ana) ou comigo (Natania). Aguardem mais notícias!

sábado, 4 de agosto de 2007

Lugar de quadrinhos é na sala de aula

Esta semana o amigo Octavio Aragão me enviou uma reportagem que saiu no Jornal da Cultura, UFRJ, edição de maio sobre quadrinhos na sala de aula. Achei muito legal, até porque reforça o que nós defendemos aqui. Segue a transcrição do texto. Espero que gostem também.

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Por: Rafaela Pereira

Atento a isso, o Ministério da Educação, a partir do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), incluiu esse ano algumas histórias em quadrinhos entre as obras que foram distribuídas às mais de 46 mil escolas públicas do país. As histórias escolhidas foram Toda Mafalda, de Quino; Na prisão, de Kazuichi Hanawa; Santô e os pais da aviação, de Spacca; e Dom Quixote em quadrinhos, de Caco Galhardo. “Usar as HQ como instrumento de aprendizado é altamente recomendável, pois auxilia na alfabetização e amplia a percepção narrativa, principalmente no que diz respeito à compreensão das diversas representações Gráficas de passagens de tempo”, explica Octavio Aragão, professor de Desenho Industrial da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ. Reproduzindo contextos da realidade e valores culturais, são as histórias em quadrinhos que oferecem a oportunidade para as crianças, desde cedo, ampliarem seus conhecimentos sobre o mundo, aumentando sua criatividade e aguçando sua imaginação. “As HQ e as tirinhas tornam o ensino mais lúdico e menos árido.

Podem ser um importante instrumento capaz de motivar o aluno para a leitura e para os estudos. Elas o ajudam a construir uma narrativa Mafalda, Dom Quixote e Santos Dumont são alguns dos personagens de histórias em quadrinhos que foram parar nas salas de aula. Se no passado os gibis eram vistos com maus olhos, hoje a situação é bem diferente. Muitos são os professores e pedagogos que utilizam o atrativo das histórias em quadrinhos como material didático de apoio, para além do que está subentendido entre um quadrinho e outro da história. Contribuem, portanto, para o desenvolvimento da própria linguagem, da criatividade e de conceitos como o de causalidade”, afirma Francisco Caruso, físico, fundador da Oficina Eduhq (Educação Através de Histórias em Quadrinhos e Tirinhas) e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

De acordo com Octavio Aragão, os gibis não servem apenas como introdução à leitura. “Os leitores de quadrinhos tendem a desenvolver uma percepção mais aguçada e uma associação de informações complementares com maior eficiência e rapidez, pelo fato de cruzarem referenciais e códigos de fontes diferentes em apenas um contexto. O leitor aprimora a acuidade visual e estabelece rápida associação de idéias”, explica o professor.

Para a Leonor Werneck dos Santos, professora do Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras (FL) da UFRJ, os quadrinhos são importantes materiais para a sua área de trabalho. “É um texto divertido, ágil e bastante interessante. Acredito que em Língua Portuguesa eles são material de leitura especialmente útil, porque o apoio do discurso não-verbal colabora na construção de sentido do texto, ou seja, a multiplicidade de linguagens é extremamente motivadora”, aponta a professora, acrescentando que “como dizia Paulo Freire, aprendemos a ler o mundo antes de ler as palavras. Ver televisão, ler gibis, ouvir música, tudo isso colabora na formação do leitor crítico. O excesso é que deve ser combatido”.

Movimento contra
Contudo, nem sempre as HQ foram pensadas como instrumento de Educação. Pelo contrário, professores e especialistas acreditavam que sua dimensão visual poderia atrapalhar o desenvolvimento intelectual das crianças. Seu potencial pedagógico, porém, foi percebido na década de 1940, nos Estados Unidos, quando o exército norte-americano desenvolveu manuais de treinamento em quadrinhos.

No Brasil, o interesse cresceu com o incentivo oferecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). “Hoje as HQ não são mais vistas como vilãs por boa parte dos professores e dos pedagogos. Por um lado, a capacidade que elas têm de atrair o leitor jovem está fazendo com que os educadores aproveitem cada vez mais esse instrumento. Por outro, sua utilização vai ao sentido do que é apontado na LDB, por exemplo, a valorização de situações do quotidiano das crianças e dos jovens e de sua vivência”, acredita Caruso. Renato José de Oliveira, diretor da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ, faz coro com Caruso. O professor afirma que é possível produzir HQ interessantes, aproveitando o que elas têm de positivo: “uma linguagem dinâmica e o estímulo que os desenhos e caricaturas dão à percepção de detalhes. Se, ao proporcionarem deleite, eles veicularem mensagens de cunho educativo, como o respeito ao meio ambiente e aos direitos de cidadania, por exemplo, estarão expressando um algo mais que poderá diferenciá-los de outros, voltados apenas para satisfazer as demandas do mercado.”

Passado histórico
Narrar através de desenhos é um recurso utilizado desde a pré-história, como mostram as pinturas rupestres que são consideradas, por muitos, como precursoras das histórias em quadrinho. Porém, tal como se conhece hoje, elas surgiram na metade do século XIX. Les Amours de Monsieur Vieux-Bois, publicada em 1837, escrita e desenhada por Rodolphe Topffer (1799-1846), professor da Universidade de Genebra, é considerada a primeira delas. E, com Little Bears and Tykes, desenhada por James Swinneston e editada em 1892 pelo jornal San Francisco Examiner, a idéia chegou aos EUA. A primeira história em quadrinhos brasileira foram As aventuras de Nhô Quim, de Ângelo Agostini, publicada na revista Vida Fluminense, em janeiro de 1869. Entretanto, com Tico-Tico, em 1905, destinada especificamente ao público infantil, contendo contos, textos informativos e curiosidades sobre matérias para crianças, o gênero ganhou importância.

O texto original está diponível em PDF no link http://www.jornal.ufrj.br/jornais/jornal26/jornalUFRJ2622.pdf