quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Quadrinhos, do papel à Internet

A análise dos aspectos que diferenciam os quadrinhos criados para o meio impresso daqueles para o meio digital, em especial a Web, é o tema da dissertação de mestrado em Artes Visuais de Anselmo Gimenez Mendo, apresentada no Instituto de Artes, campus de São Paulo. Intitulada História em quadrinhos (HQ) - impresso vs. Web, a obra foi lançada em livro pela Editora UNESP (112 páginas; R$ 24,00, informações: 11-3242-7171).

Designer gráfico e ilustrador, Mendo verifica que a disposição inicial dos autores de quadrinhos, ao entrar em contato com a Internet, foi a de usufruir desse suporte como ferramenta de criação e, principalmente, como meio de distribuição da sua produção.

"Muito do que encontramos na Web sobre HQ é uma transposição de material concebido para o meio impresso com poucas adaptações para o ambiente digital", comenta o autor. "Poucos trabalhos utilizam os recursos multimídia e de interação da Internet de forma a enriquecer a experiência do leitor."

Para o designer, mesmo esse segundo grupo de obras não cria uma nova linguagem, mas apenas uma variação da HQ impressa. "O que mudou com a consolidação do ciberespaço foi o envolvimento do leitor com as formas de comunicação por rede de computadores", acredita.

Grupos - O diálogo entre os quadrinhos e a Web é categorizado em cinco grupos. O primeiro consiste na mera reprodução da página impressa com uma pequena adaptação ao meio. As histórias são disponibilizadas para download com a intenção de que o leitor imprima as páginas e faça a leitura no papel. "A idéia é apenas aproximar o leitor do trabalho por meio de uma distribuição prática e barata", comenta Mendo.

No segundo grupo, já ocorre uma pequena adaptação ao formato do computador, como a acomodação dos quadros que compõem a página na área visível da tela. "A proporção é a mesma quando comparada às revistas impressas, mas a história passa a ter uma dinâmica semelhante à linguagem em vídeo", explica o designer.

O terceiro grupo traz a HQ com a interface característica dos meios digitais. É copiado o aspecto geral das revistas impressas, mas ocorre a adição de funcionalidades próprias da navegação na Internet. "A HQ, porém, não conta com recursos de inteligência artificial, mas apenas navegação por uma estrutura não linear que pode ser experimentada de diversas formas, como botões de navegação que permitem dar um zoom", comenta.

No quarto, há utilização moderada de recursos multimídia e interatividade. Geralmente, são apresentados recursos sonoros, relacionados às onomatopéias e à ambientação. Às vezes, um personagem só responde ao questionamento de outro quando o leitor move o cursor sobre ele. "Não se trata mais apenas de transpor para o meio digital criações pensadas para o impresso", ressalta Mendo.

No último grupo, a HQ surge com uso avançado de animação, som e interatividade. As tramas ficam próximas de perder as características fundamentais do quadrinho impresso. "Se não fosse algumas vezes pelo texto e os quadros, como nas HQ impressas, provavelmente não seria possível compará-las com histórias em papel", afirma.

Interação - A pesquisa mostra como a HQ na Internet criou um usuário que gosta de ter a possibilidade de interagir com a história, personagens e autores. "Estes, aliás, fundamentalmente formaram seu repertório imagético por meio da leitura de capital impresso", acredita o pesquisador. "Não surgiu ainda um leitor de quadrinhos na Web, mas sim um usuário que assimilou a tecnologia para ter acesso a conteúdo derivado do meio que ele já conhecia."

De acordo com Mendo, os quadrinhos impressos não dão sinais de perder seu lugar para versões eletrônicas. "Os atuais monitores de vídeo dos computadores ainda não demonstraram superar o conforto e a portabilidade proporcionados pela leitura em papel", avalia. Para ele, a HQ eletrônica, especialmente a distribuída por redes de computadores, pode servir de trampolim para artistas que almejam integrar a vanguarda da criação digital. "Para isso, necessitam ver a Web como algo realmente novo e com infinitas possibilidades criativas."

História dos quadrinhos
As histórias em quadrinhos são desenhos em seqüência que narram uma história. Elas podem ter balões contendo o texto ou ser meramente visuais. Começam a aparecer no Ocidente por volta do século XVIII, na França, com as chamadas "canções de cego", tanto em edições populares como com luxuosas iconografias. Em 1823, em Boston, EUA, surge um almanaque publicado por Charles Ellms, que traz, pela primeira vez, entre passatempos e anedotas, algumas histórias cômicas. Em 1846, aparece, em Nova York, a primeira revista exclusivamente com essas histórias, chamada Yankee doodle. O Japão e a Europa também se mostram terrenos férteis para material de HQs.

No Brasil, Angelo Agostini, um italiano radicado no país, desenha e publica na revista Vida Fluminense, dia 30 de janeiro de 1869, os quadrinhos As aventuras de Nhô Quim ou impressões de uma viagem à Corte. Quinze anos depois, ele cria os primeiros quadrinhos brasileiros de longa duração, com Aventuras do Zé Caipira.

Por Oscar D'Ambrosio, do Jornal do UNESP.

Fonte: http://www.ensinosuperior.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=680&c=31

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