domingo, 1 de fevereiro de 2009

Um pouco de História das HQs

Como nascem os heróis

Em comemoração aos 70 anos da revista na qual Superman estreou, a Action Comics, a editora brasileira Panini lançou uma série de dez volumes

Há 70 anos, o norte-americano Jerry Siegel e o canadense Joe Shuster haviam publicado a primeira revista em que Superman aparecia, e Bob Kane e Bill Finger se preparavam para criar "o maior detetive do mundo", Batman. Hoje, são os principais heróis da DC Comics, editora norte-americana de quadrinhos, e personagens inseparáveis da cultura pop mundial Prova disso é que, em 2008, Batman - O Cavaleiro das Trevas foi o filme que obteve a maior arrecadação em todo o planeta: quase US$ 1 bilhão em bilheteria.

Em comemoração ao aniversário de 70 anos da publicação do primeiro número da revista Action Comics - em que Superman faz sua estreia e considerada o marco da DC Comics - a editora Panini lançou no Brasil 10 edições especiais (R$ 22,90, cada) com histórias que formaram a mitologia em torno de Superman, Batman e dos heróis da Liga da Justiça nas últimas sete décadas.

Nos Estados Unidos, não foram feitas edições comemorativas, por isso as brasileiras não têm similares por lá. As histórias reunidas em cada edição variam entre publicadas nos primórdios dos personagens, na década de 40, até mais recentes, dos anos 2000. "Apesar dos personagens serem conhecidos do grande público, as edições serviram para resgatar grandes momentos, alguns até ingênuos, mas que fazem parte da essência deste heróis", afirma Levi Trindade, editor responsável pelos quadrinhos da DC na Panini. Foi ele quem, ao lado de Fabiano Denardin, escolheu as histórias dos especiais.

Nas obras, estão alguns destes momentos definidores dos heróis, como a morte dos pais de Bruce Wayne, alter ego de Batman, e o início da rivalidade entre Lex Luthor e Superman, até então amigos. Retratada pela primeira vez em 1939, a morte dos pais do Batman provocou divisões entre fãs e roteiristas até pouco tempo. Nos quadrinhos, um bandido comum, sem nome, foi o autor do crime. Já o diretor Tim Burton colocou o Coringa de Jack Nicholson como o assassino no primeiro filme do herói, em 1989. "Tentaram, nos quadrinhos, associar a morte dos pais do Batman com um sujeito chamado Joe Chill. Depois, os editores decidiram que não era necessário ter um nome, que a guerra do Batman contra o crime não tinha nome, nem fim", explica Trindade.

O especial dos confrontos entre Superman e Lex Luthor mostra bem a metamorfose do vilão e dos quadrinhos nestes 70 anos. Superman, que no início das histórias ainda nem voava, apenas dava grandes saltos, foi ganhando o status de semideus, para depois ficar mais humano, a partir dos anos 70. E Luthor, o estereótipo de cientista maluco, se tornou um criminoso mais sutil com o passar do tempo, ao ponto de chegar à presidência dos Estados Unidos no mesmo ano em que George Bush foi eleito. "Acabou sendo uma crítica à própria política americana."

Normalmente, os quadrinhos reproduziam os presidentes da vida real. Muitos acusaram a DC de estar tachando o recém-eleito presidente de vilão. A empresa alegou se tratar de uma licença poética, mas, em outra história recente (que não está nos especiais), Luthor pede para que a Liga da Justiça intervenha em uma país imaginário do Oriente Médio, como os Estados Unidos fizeram, sob a administração Bush, no Iraque e no Afeganistão.

Batman também foi afetado - e muito - pela chegada dos anos 70. Até então, suas histórias estavam mais para o colorido seriado dos anos 60 estrelado por Adam West do que para o solitário Batman retratado em O Cavaleiro das Trevas. Uma das histórias que mostram a transformação é A noite do Caçador, em que Batman relembra a morte dos pais e, por 13 páginas, aterroriza um trio de assaltantes sem dizer uma só palavra. Violenta e sombria, foi a história que o diretor Tim Burton levou em conta para conceber o Batman vivido nos cinemas por Michael Keaton.

Relembre as aparições do herói de 70 anos

1940 — O Superman das primeiras histórias era bem diferente do atual. Na história "América em Guerra", Luthor é uma espécie de Hitler (na época os EUA estavam em guerra com a Alemanha) que joga os países europeus uns contra os outros. Superman ainda dava saltos, em vez de voar, característica que foi modificada com o passar dos anos. Depois de se tornar praticamente um semideus, Superman foi humanizado nas últimas décadas. Agora, nos anos 2000, alguns roteiristas estão recuperando o lado cômico do herói.

1960 — O início da rivalidade entre Lex Luthor e Superman aconteceu quando os dois ainda eram adolescentes. Luthor, um brilhante cientista, tentava descobrir um antídoto que tornasse seu amigo Superboy invulnerável à criptonita e, sem querer, colocou fogo em seu laboratório. O inexperiente Superboy, sem querer, ao tentar apagar o incêndio, soprou substâncias químicas que deixaram Luthor careca. Nos anos 80, com a reformulação nos quadrinhos da DC, a calvície de Luthor veio de forma natural, e foi até motivo de piadas.

2001 — Em janeiro de 2001, ao mesmo tempo em que George W. Bush tomava posse como presidente, a DC colocava Lex Luthor na presidência dos Estados Unidos. As críticas foram imediatas e a editora foi acusada de colocar Bush como vilão. Mesmo negando qualquer vínculo entre Luthor e Bush, o tom politizado dos quadrinhos foi mantido e, em algumas histórias recentes, outras "coincidências" aconteceram, como da vez em que Luthor pede que a Liga da Justiça intervenha em um país do Oriente Médio. Em 2003, Lois Lane foi ferida durante reportagem no Iraque.

1939 — A gênese de Batman foi a morte de seus pais, assassinados por um ladrão comum, quando ele ainda era criança. A partir daí, ele promete combater o crime pelo resto da vida. Nos cinemas, Tim Burton atribuiu o duplo homicídio ao Coringa e, nos anos 70, o bandido chegou a ser preso e ganhar um nome: Joe Chill. Mas ambos foram rechaçados. A diretoria da DC foi chamada a tomar uma decisão e acabou decidindo que era mais lógico que o bandido não tivesse nome e jamais fosse capturado, justificando a incessante luta de Bruce Wayne contra o crime.

1974 — Depois das festivas décadas de 50 e 60, quando a maioria das histórias era totalmente fantasiosa, enfrentando monstros e seres de outro mundo ao lado de Robin, Batman se tornou mais sombrio nos anos 70. Era uma resposta da DC à editora concorrente Marvel Comics, que já vinha humanizando seus heróis desde o fim da década de 60. Nesta história, publicada em 1974, Batman não precisa dizer nada para assustar três assaltantes de banco. Em flashback, também mostra a morte dos pais de Bruce Wayne.

Fonte: Bem Paraná

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