domingo, 10 de maio de 2009

Batman faz setenta anos


Mito Setentão

Ao completar sete décadas de existência, Batman se consagra como megassucesso de vendas, embora não haja bat-sinais de grandes comemorações. Batman chega este mês aos 70 anos com fatos e números dignos de respeito e estudo. O famoso personagem das histórias em quadrinhos, propriedade do grupo norte-americano Warner, se consolidou como a mais bem-sucedida e duradoura obra coletiva da indústria cultural, marcada por dezenas de colaboradores e por coleção de sucessos em todas as mídias, particularmente na televisão e no cinema. Se depender dos produtores do homem-morcego e dos aficionados do personagem espalhados pelo mundo, essa trajetória ainda vai longe. “Este é o ano do morcego! Celebrar sete décadas não é pra qualquer um. Temos boas surpresas reservadas para os fãs do herói”, promete Levi Trindade, editor de revista de Batman no Brasil (publicada pela Panini) em recente comunicado.

Apesar desse entusiasmo todo, a festa do septuagenário — que chegou às bancas e ao mundo pela revista Detective comics em maio de 1939 — ainda não decolou. “A meu ver, aqui no Brasil tudo está passando meio despercebido, já que as empresas não se interessam tanto em promover eventos ou exposições como no exterior”, observa Renato Araújo, presidente do Batbase, maior fã-clube brasileiro dedicado ao pe
rsonagem.


Especialistas acreditam que talvez a combinação da crise financeira mundial, que tem os Estados Unidos como epicentro, com a hiperexposição de Batman em 2008, ano em que o filme Cavaleiro das trevas bombou nas telas e arrecadou mais de U$ 1 bilhão apenas nos cinemas americanos, tenha impedido grandes lançamentos e relançamentos especiais de gibis. Trata-se de breve pausa para novos voos, garantem os batmaníacos. Para piorar, o
vingador mascarado está “morto” nas páginas de sua revista mensal nos EUA. A série Descanse em paz (RIP), prevista para chegar ao país em junho, abriu caminho para uma guerra entre candidatos a envergar a capa e o posto dele.

Carisma
Também chamado de Cruzado Embuçado, o super-herói fantasiado tem seu carisma explicado pelo fato de não ser exatamente um “super-he
rói”. O vigilante de Gotham não possui superpoderes, não é imortal e mantém uma fachada social como playboy multimilionário. Sua personalidade introspectiva desperta curiosidade, sobretudo pelas motivações que o levaram a ser uma criatura sombria a serviço da Justiça. Para o rabino norte-americano Cary Friedman, autor de A sabedoria da Bat-Caverna, a força de vontade e a determinação do herói em transformar o sentimento de vingança em algo positivo podem até servir de exemplo para agentes da lei.

Mas não foi só o combate ao crime que preencheu os 70 anos de Batman. Dúvidas existenciais, desafios naturais e surreais o testaram como a nenhum homem. Relacionamentos afetivos com belas mulheres e uma tensa relação com inimigos e amigos também pesaram.

Enquanto os céus de grandes metrópoles e mesmo os da fictícia terra natal de Batman, Gotham City, não exibem bat-sinal de festejos, colecionadores e imprensa especializada contabilizam os feitos do cavaleiro das trevas. Um rápido balanço mostra que seu desempenho é invejável. O mais premiado desenho animado, a mais influente série de tevê, 20 anos de blockbusters no cinema, gibis antológicos, uma avalanche de produtos licenciados e várias adaptações oficiais e paródias na mídia.

O personagem consolidou ao longo desse período
duas dimensões: como mito contemporâneo e como ícone cultural. O criador, Bob Kane, adolescente na época, misturou ideias de personagens distintos para criar Batman. Sem creditar devidamente o coautor, o roteirista também jovem Bill Finger, nunca poderia imaginar que sua criatura ganharia rumo próprio, agregando elementos de geniais artistas. Hoje, Batman pode ser colocado no grupo de arquétipos reconhecidos universalmente, como Papai Noel, Robin Hood e Drácula. (Colaborou Pedro Brandt)



Bat - curiosidades

Influência do personagem envolve situações inusitadas

Cabo eleitoral
Batman conquistou a política. O ex-presidente do Equador Abdala Bucaram, que em 1997 ficou seis meses no cargo e foi afastado por insanidade, pulou de helicóptero fantasiado do homem-morcego durante a campanha. Autointitulado “o louco”, se apresentava com seu principal colaborador, Alfredo Adum, como Batman e Robin. No Peru, o Partido da Juventude se lançou nas eleições de 1992 ao congresso constituinte tendo o cavaleiro das trevas como mascote. Em Recife, Edmar de Oliveira se vestiu de Batman em 1994 para pedir votos como candidato a deputado federal pelo PL.


Morcego tropicalista
Embalados pelo movimento tropicalista e pela poesia concreta, Gilberto Gil e Caetano Veloso compuseram em 1968 a canção Batmacumba. A ideia, explicaram, era combinar ícones culturais de dois planos, o universal e o brasileiro. Em meio a uma curiosa sequência de palavras e sílabas cujo texto evolui para formar um par de asas de morcego, tal qual um poema concreto, ficam evidentes dois vocábulos: Batman (o super-herói branco) e macumba (religião afro-brasileira). A repetida palavra bat (morcego, em inglês) toma o lugar de bate, batida.

Cinto de utilidades
Tornou-se mais que adereço do herói. Presente no imaginário popular, o cinto de utilidades reúne amplo e exclusivo leque de ferramentas para o combate ao crime. Os principais são batarangue (bumerangue estilizado na forma de morcego), controle remoto do batmóvel e batcorda. Sem contar lanternas, medicamentos, máscaras contra gases e até um minicilindro de oxigênio. No livro The Batman handbook, Scott Beatty ensina a arranjar o cinto de utilidades com sistema de autodestruição, kit de enfermagem, telefone celular, algemas e cabos com ganchos.

Santa interjeição!
O Robin da série de tevê (1966-1968) exclamou 347 interjeições do tipo “bat-isso, bat-aquilo” nos 120 episódios das quatro temporadas, incluindo o longa-metragem. A tradução brasileira fez adaptações divertidas, como “santo fumacê!”, “santas algemas perníferas!” e “santos parentes desaparecidos”. Um dos momentos mais aguardados do programa era quando a dupla dinâmica escalava um prédio, uma janela se abria e surgia uma celebridade que fazia um diálogo rápido com os heróis. Jerry Lewis inaugurou a galeria dos “famosos da janela”.

Caso de polícia
Além de Gotham City, o homem-morcego está na lista de procurados pela polícia no Rio de Janeiro. O ex-policial carioca Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, é fugitivo desde outubro da penitenciária de Bangu 8. Líder da quadrilha Liga da Justiça, é acusado de estar por trás da série de atentados desencadeada pela guerra entre grupos paramilitares. No YouTube, deixa recados em que se diz injustiçado. Ele fugiu da cadeia pela porta da frente, com direito a filmagem. Outro criminoso carioca recentemente preso é Marcos Santana dos Santos, o Coringa, ex-gerente do tráfico no Complexo do Alemão.

Bat-momentos, galerias de vilões e gibis

Silvio Ribas

BAT-MOMENTOS

1939
Surge em maio, na revista Detective Comics 27, da National Comics (atual DC Comics), um novo super-herói. Um ano depois do aparecimento do Superman, o vingador mascarado Batman nasce sombrio e implacável com os criminosos, sem nenhuma piedade com os criminosos. Edições mais tarde revelam que um trauma de infância motivou a trajetória do cavaleiro das treveas: o assassinato de seus pais por um ladrão comum. A promessa de combater o crime pelo resto da vida foi compartilhada com o parceiro mirim Robin, lançado em 1940.

1966
Sock! Pow! Crash! O Homem-Morcego e suas onomatopeias chegam com ares de superprodução na telinha e vira fenômeno pop mundial. A série televisiva Batman, com Adam West e Burt Ward (Robin) interpretando a dupla dinâmica, traz cores e humor inteligente que conquistaram crianças e adultos. Num episódio, por exemplo, os heróis são esmagados e, na cena seguinte, aparecem como se fossem duas imagens impressas em tamanho real. No chamado ano da Batmania, as vendas de gibis do herói explodem e um sem-número de produtos licenciados chegam às prateleiras, sem falar na popularização de símbolos e expressões usadas até hoje.

ANOS 70
Após as festivas décadas de 50 e 60, quando a maioria das histórias de Batman era totalmente fantasiosa, enfrentando monstros e seres de outro mundo ao lado de Robin, os anos 70 trouxeram o cavaleiro das trevas de volta às... trevas. Liderada por artistas como Neal Adams e Steve Englehart, o movimento para fazer o herói voltar a ser solitário e sombrio foi uma resposta da DC à editora concorrente Marvel Comics, que já vinha humanizando seus heróis há mais de uma década. A amargura com a morte dos pais e o lado detetivesco ganham força.

1989
O ano do cinqüentenário de Batman criou uma segunda batmania no mundo. Puxada pelo filme dirigido por Tim Burton, a onda de marketing não tinha precedentes na história. O cavaleiro das trevas invadiu corações e mentes e impulsionou a venda de dezenas de produtos licenciados. O sucesso do filme levou a mais três continuações até 1997, que foram perdendo o foco e o público com o tempo. O fracasso de Batman e Robin, dirigido por Joel Schumacher, levou a um jejum de oito anos do personagem na telona.

Século 21
Depois dos altos e baixos dos anos 90, Batman consegue reencontrar seu caminho nos quadrinhos, no cinema e nas novas mídias digitais. O sucesso das séries em desenho animado de Bruce Timm iniciada em 1992, por sua vez, continuou rendendo frutos. O ponto alto foi o lançamento de Batman Begins (2005), de Chris Nolan, um estrondoso sucesso cinematográfico, rico em realismo, reforçado pela sua sequência Cavaleiro das Trevas, ano passado, com recordes de bilheteria e aplausos rasgados de público e crítica.

Respeitável galeria de vilões

Falar em Batman é também lembrar sua famosa galeria de bat-vilões. São centenas deles com perfis extremamente variados, uma lista que não para de crescer em número e importância. Em todas as mídias, sobretudo nas histórias em quadrinhos, essas notáveis figuras surgem para combater o Homem-Morcego e seus aliados, além de invadir o imaginário popular. Coringa, Pinguim, Duas Caras, Charada, Mulher-Gato, Senhor Frio, Espantalho, Hera Venenosa, Bane e Chapeleiro Louco são algumas das figurinhas carimbadas que fazem o seu show no grande palco chamado Batman desde 1939.

A característica comum da maioria desses criminosos (e desajustados) é a estampa tresloucada, rica em teatralidade. Para se ter ideia do tamanho do desafio dos justiceiros de Gotham City, o arquivo de rivais do maior super-herói da DC Comics apresenta gângsteres cruéis, assassinos seriais, canibais, cientistas inescrupulosos, terroristas, maníacos incendiários, aberrações humanas, gênios esquizofrênicos, masoquistas degenerados e malucos – muitos malucos. O segredo da longevidade dessa turma do mal está no perfil complexo de personagens que, mesmo ridículos, são requintadamente sórdidos.

A fórmula do arqui-inimigo — palavra que parece ter nascido para os quadrinhos — também foi testada em vários outros super-heróis, sendo o "modelo Batman" sempre o mais copiado. Tudo isso graças a gênios como Jerry Robinson – desenhista que ajudou o criador do Cavaleiro das Trevas, Bob Kane, a presentear os leitores com uma lista de inesquecíveis malfeitores, encabeçada pelo Coringa, o Príncipe Palhaço do Crime. Muitos desses fizeram tanto sucesso a ponto de ganharem seus próprios títulos regulares nos quadrinhos, caso da Mulher-Gato, por exemplo. Outros foram também protagonistas de edições especiais. Eles sabem mesmo roubar a cena e outras coisas.

BAT-GIBIS CLÁSSICOS

BATMAN — O CAVALEIRO DAS TREVAS (1986)
A obra do roteirista e desenhista Frank Miller é considerada "o" marco nas histórias em quadrinhos, a ruptura definitiva com a visão infantilizada dessa arte e a elevação ao seu merecido lugar de destaque. Na história, um Bruce Wayne (Batman) com pé na terceira idade deixa a aposentadoria para pôr ordem num mundo caótico, ao lado de uma Robin menina. Sua luta contra o Superman é antológica. Apesar do grande sucesso, sua continuação decepcionou.

BATMAN — ANO UM (1987)
Essa história escrita por Frank Miller e desenha por David Mazzuchelli conta detalhes da vida de Bruce Wayne depois que seus pais foram mortos por Joe Chill e o tumultuado ano de sua estréia como Batman. O filme Batman Begins foi explicitamente inspirado nesse gibi.

O MESSIAS (1988)
Deacon Blackfire, um ambicioso líder religioso, domina Gotham City com uma série de ações combinadas. Nessa minissérie em quatro partes, escrita por Jim Starlin e que leva o título The cult no original, Batman é preso e drogado. O comissário James Gordon é baleado e corre risco de vida. No caos, a cidade se isola. A arte dessa leitura essencial na bibliografia batmaníaca é de Bernie Wrightson.

A PIADA MORTAL (1988)
A relação neurótica entre Batman e Coringa é apresentada com roteiro (Alan Moore) e arte (Brian Bolland) refinados. As características dos personagens são confrontadas como que para justificar o perfil de cada um. A festejada história em quadrinhos, que recebeu várias reedições mundo afora, narra também memórias sobre os primeiros passos no crime do arqui-inimigo do Morcegão. O epílogo é surpreendente.

O LONGO DIA DAS BRUXAS (1996-1997)
História em quadrinhos clássica que serviu de inspiração para Batman — O cavaleiro das trevas, último filme do herói. Nessa aventura, o Homem-Morcego enfrenta a família mafiosa de Sal Maroni e um assassino serial que se pauta pelo calendário: só mata em feriados. A série ganhou uma bela seqüência: Vitória sombria.

BATMAN — SILÊNCIO (2002-2003)
Uma mistura de drama pessoal com grande orquestração criminosa. É assim que o complexo roteiro de Silêncio (Hush, no original em inglês), assinado por Jeph Loeb, resultou em um dos maiores sucessos de vendas de gibi de todos os tempos. Sob a arte dinâmica de Jim Lee surgem praticamente todos os principais nomes do universo de Batman. A novidade está no implacável e misterioso vilão Hush, que lembra o personagem título de Darkman — Vingança sem rosto (1990), filme dirigido por Sam Raimi.

Ao completar sete décadas de existência, Batman se consagra como megassucesso de vendas

Fonte: http://www2.correiobraziliense.com.br/cbonline/cultura/cadc_mat_81.htm

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