quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Quadrinhos e internet se aliam contra repressão no Irã

Madri, 25 ago (EFE).- As histórias em quadrinhos e a internet se aliaram para denunciar as irregularidades do processo eleitoral iraniano em "Persépolis 2.0", que recria na rede a famosa graphic novel "Persépolis", com novos textos que falam dos protestos contra o Governo do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

Das mais de 300 páginas de "Persépolis", publicada em 2000, dois jovens exilados identificados apenas como Payman e Sina selecionaram cerca de 100 quadrinhos e mudaram os textos dos balões para dar sentido a uma nova história.

Os internautas podem baixar o conteúdo da história em quadrinhos na íntegra pelo site "www.spreadpersepolis.com" e pedem a divulgação da obra pelas redes sociais virtuais.

Os quadrinhos e o próprio título da história lembram como, diante do bloqueio de centenas de páginas e blogs por parte do Governo iraniano, as redes sociais se transformaram no maior agente de mobilização e em uma vitrine para mensagens de denúncia.

"Persépolis 2.0" começa a se destacar em redes como Twitter e Facebook, onde já existe um grupo criado por uma estudante italiana e formado por mais de 70 usuários, no qual se encontram links para a página da história em quadrinhos e para a obra original de Satrapi.

Além disso, todos os quadrinhos estão disponíveis em um álbum do site Flickr, o portal de troca de fotografias frequentado por milhões de usuários de todo o mundo.

Com este salto para dentro da rede, a obra de Satrapi, levada ao cinema e indicada ao Oscar de Melhor Filme de Animação em 2008, tem um novo capítulo que se soma aos quatro volumes do "Persépolis" original.

A queda do xá de Pérsia, o advento da república islâmica e a guerra do Irã contra o Iraque são o pano de fundo dos primeiros volume de "Persépolis", narrados por uma jovem Marjane Satrapi que não pretendia escrever sobre sua vida, mas sobre a história de seu país e, segundo explica no livro, "sobre a situação política vivida".

Entretanto, sua experiência de morar anos na Áustria e voltar a uma Teerã mais repressiva foi o fio da meada da graphic novel que aproximou milhares de leitores ao valioso testemunho de uma mulher que foi educada por uma família progressista no Irã.

Trinta anos depois do original, em "Persépolis 2.0" também há violência, execuções, manipulação midiática e as mulheres como protagonistas, assim como nos protestos contra os resultados das eleições presidenciais de 12 de junho.

A história em quadrinhos termina no dia 21 de junho deste ano com a morte da jovem Neda Agha Soltani, estudante assassinada durante os distúrbios pós-eleitorais e transformada em um ícone das manifestações depois que sua imagem foi divulgada ao redor do mundo.

Sina e Payman, que incluem em seu site uma pequena introdução na qual apresentam a obra de Satrapi, se transformam com "Persépolis 2.0" em mais dois embaixadores de um país no qual dois terços da população tem menos de 32 anos.

Embora todos os quadrinhos sejam da obra de Satrapi, Payman e Sina preferem esclarecer que "os pontos de vista expressados (em "Persépolis 2.0") não refletem necessariamente os da autora". EFE

Fonte: O Globo

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