quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mauricio de Sousa: das tiras de jornal à máquina de quadrinhos


Nascido em Santa Isabel, pequena cidade do interior de São Paulo, Mauricio de Sousa passou a infância entre Mogi das Cruzes e a capital São Paulo. Suas primeiras aulas foram no Externato São Franciso, no centro de São Paulo.

Ainda estudante, ele trabalhou em rádios e desenhando cartazes e pôsteres, para ajudar no orçamento doméstico. Depois foi repórter policial do jornal Folha da Manhã durante cinco anos. Em 1959, criou uma série de tiras em quadrinhos com um cãozinho e seu dono - Bidu e Franjinha - e ofereceu o material para os redatores da Folha. As historietas foram aceitas. O jornalismo perdeu um repórter policial e ganhou um desenhista.

Mauricio criou personagens e gibis que fizeram e fazem parte da infância de muitos brasileiros. Além de Bidu e Franjinha, você certamente conhece Cebolinha, Chico Bento, Penadinho, Horácio, Astronauta, Mônica, Cascão e Magali, todos criados por Mauricio.

Hoje, em seu estúdio, o criador da Turma da Mônica emprega mais de 500 pessoas e tem na família a sua principal fonte de energia. Com dez filhos, 11 netos e um bisneto, Mauricio lançou recentemente o site Máquina de Quadrinhos, o primeiro editor online de histórias em quadrinhos do Brasil. Mas ele ainda tem um sonho a realizar: fazer uma série de TV nos moldes do antigo Vila Sésamo, voltada para a primeira infância.

Foi em seu estúdio, em meio a um clima efervescente, que Mauricio parou um momento para falar com a repórter Jeanne Margareth e contar sobre sua escola, infância e sonhos de um Brasil mais feliz. "Precisamos melhorar, modernizar sistemas, padrões e estruturas, para poder receber dignamente esta criança moderna, curiosa, esperta e carente de perspectivas", afirmou. Leia a seguir a entrevista na íntegra.

Qual foi a sua primeira escola?
Mauricio:
Minha primeira experiência escolar foi no Externato São Francisco, no Largo São Francisco. Eu morava na rua Maria Antônia, centro de São Paulo, pertinho do colégio.

Quais são as suas lembranças dessa época?
Mauricio:
Um momento especial do dia, quando eu e uma priminha íamos a pé até o colégio. Eu tinha seis anos e já estava tomando conhecimento dos gibis. Outra coisa inesquecível não tinha nada a ver com a didática, mas é uma lembrança muito gostosa... a hora do lanche. Com os deliciosos sanduíches de marmelada que minha mãe preparava.

Quais foram os seus momentos mais marcantes na escola?
Mauricio:
No Externato São Francisco,eu comecei a rabiscar minhas primeiras letras no caderno de caligrafia. Foi lá também que tomei minha primeira colherada de óleo de Santa Maria (contra vermes). Horroroso! Tinha que levar laranja para chupar após a colherada.

Você foi um bom aluno?
Mauricio:
Em alguns períodos, sim. Mas, em outros, enfrentei problemas. As mudanças de endereço (e de cidade) me prejudicaram um pouco no primário e no final do ginásio. A necessidade de trabalhar também prejudicou bastante.

Você lembra dos professores?
Mauricio:
Lembro de muitos. Alguns pela eficiência. Outros por métodos fracos de ensino. Mas, no geral, tive muitos bons professores. Fui bem servido em português, história, ciências, francês, geografia... mas nem tanto em matemática.

Algum desses mestres marcou a sua vida?
Mauricio:
Sim, uma das professoras mais marcantes foi Dona Iracema Brasil, que ministrava um curso preparatório para entrar no ginásio. Quando fui estudar com ela, estava meio por baixo, depois de um quarto ano maltratado. Mas Dona Iracema me levantou a moral, usou carinho e psicologia e acabou me transformando num dos melhores alunos da classe e dos primeiros anos do ginásio. Nesse tempo, eu estudava em Mogi das Cruzes, e o colégio era o Washington Luiz.

Como era o ensino quando você frequentou os bancos escolares?
Mauricio:
Melhor e diferente do que é atualmente. Os professores eram personalidades respeitadas e bem posicionadas economicamente na cidade. Consequentemente, podiam se dar mais e melhor para as aulas. Os alunos só lucravam com isso.

Na sua opinião, a tecnologia ajuda o ensino?
Mauricio:
A tecnologia sempre vem para ajudar. Depende do uso que fazemos dela.

E a Turma da Mônica surgiu para ajudar na Educação ou apenas para divertir?
Mauricio:
Nossas historinhas vieram originalmente para entreter e divertir. Mas, com o tempo e a força dos personagens, eu e os porfessores descobrimos caminhos possíveis na paradidática. Com o auxilio da técnica da narrativa dos quadrinhos e o carisma dos personagens, descobrimos uma forma de ajudar na Educação.


Você tem planos para a Turma da Mônica?
Mauricio:
Fico feliz com a turminha indo para a escola nos livros escolares e trabalho dos alunos, mas está faltando a realização do meu grande sonho: uma série de TV, nos moldes do antigo Vila Sésamo, onde ensinaríamos primeiras letras e números para a turminha que ainda vai entrar na escola. Uma pré-escola pela TV. Faz falta isso neste país.

Qual é a sua maior preocupação em relação à Educação no Brasil?
Mauricio:
É a preparação para a escola. Precisamos melhorar, modernizar sistemas, padrões e estruturas, para poder receber dignamente esta criança moderna, curiosa, esperta e carente de perspectivas.

Você foi um pai fiscalizador, severo ou do tipo mais tranquilo com relação aos estudos dos filhos?
Mauricio:
Não me considero um pai severo quanto aos estudos dos filhos. Mas exigente, sim. Conversamos muito, sempre, e os resultados aparecem.

O que faz uma boa escola e um bom professor?
Mauricio:
Um bom método de ensino faz uma boa escola. Um bom professor é aquele que segue, usa e aperfeiçoa esse bom método.

Qual foi o primeiro livro que chamou a sua atenção?
Mauricio:
Um livrinho simples, de história de fadas, de papel ruim e ilustrações idem. Mas era um livro. Um objeto mágico. Que "falava" comigo.

Qual livro indicaria aos jovens para despertar o gosto pela leitura?
Mauricio:
Ah! Existem tantas opções nos dias de hoje... começando pelas revistas e gibis. Acho que o jovem deve frequentar mais as livrarias, transitar pelas estantes, tentar se interessar por algum título, folhear, pinçar frases em algumas folhas, ver a "orelha" do livro e... seguir o seu instinto. Também há as indicações. Que podem ou não servir. Cada leitor é uma cultura.

Em sua opinião, qual matéria não pode faltar no currículo escolar?
Mauricio:
Informática, que sempre deve ser estudada em profundidade.

O que pode ser feito contra a desvalorização do professor?
Mauricio:
Reciclagem geral. Governos e instituições deveriam mudar o trato com os professores e criar sistemas para aperfeiçoamento da didática.

Os quadrinhos podem ser um caminho para estimular o estudo e a leitura?
Mauricio:
Sim. Foi dessa forma com os meus filhos, comigo e é com milhares de brasileiros.

Como seria a escola de seus sonhos?
Mauricio:
Aquela da esquina do meu quarteirão. Continuação da minha casa. Mistura de carinho com dever.

Fonte: Educar para Crescer

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