sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Conhecimento e Roteiro

Por Tiburcio

Aprendi detalhes importantes para escrever roteiros de quadrinhos e acredito que vale a pena dividir isso com os jovens autores que acompanham este blog. Sempre tentei escrever quadrinhos para poder desenhá-los. E essa tarefa, especialmente na juventude, me pareceu mais exaustiva e instigante. A pergunta mais freqüente era: escrever sobre o quê?

E nesse compasso sinuoso, começava a escrever, a criar histórias de tipos diversos, às vezes inspirado em trabalhos de outros autores, mas, sempre acontecia da fonte “secar” num determinado momento e eu perdia o entusiasmo. Também ocorria ter de escrever sobre um tema específico e por falta de conhecimento, o trabalho inconsistente, não conseguia agradar ao editor.

Me lembro de que, um dos meus primeiros quadrinhos publicados – o DROPS – era severamente criticado pelos colegas de universidade, por falta de apelo. Também pudera, o pessoal era fã de super-heróis ou de autores mais maduros e mais experientes que eu. Hoje entendo que o DROPS era a expressão máxima do meu conhecimento na época. Daí a falta de profundidade, sem muito apelo. Seria difícil produzir uma obra semelhante à de um autor tarimbado sem vivenciar ou saber como ele viveu, nem que fosse informado através de pesquisa. Lembro de um fato curioso com relação ao Pasquim. Eu muito jovem e levava lá meus cartuns, sempre rejeitados, com toda razão, pois eram praticamente apolíticos. “- Falta molho… falta choque!” dizia o editor. O molho não era o que se comprava no mercado ou o que se aprendia na escola. Sem uma informação bem embasada, você não consegue discorrer sobre nenhum tema.

Um dia eu cheguei na MAD. Comecei ilustrando matérias e… terminei ilustrando também. Tive poucos textos aprovados lá; um deles – a Seção Desastrológica – o foi porque eu lia muito sobre Astrologia e falava então, bem fundamentado. Ou seja, eu conseguia passar de verdade 50% de humor e 50% de conhecimento. E funcionava bem assim.

Depois da MAD, houve situações em que precisei fazer um roteiro sobre outros assuntos e a dificuldade sempre aparecia. Até gostava de ilustrar ficção científica, por exemplo, porém como não tinha paciência de ler sobre o tema, logo sentia dificuldade em criar um roteiro de bom nível.

Enfim, surgiu o Meu Monarca Favorito. Considero-o, apesar de imperfeito, o resultado final mais próximo da conjugação do CONHECIMENTO com o QUADRINHO. Gosto do filão histórico, sei ilustrar de acordo com a época, leio bastante a respeito e tenho ainda uma opinião formada que ajuda a dar suporte ao argumento. Por isso fica aqui meu conselho a você, jovem desenhista de HQ: escreva sobre o que você conhece, algo assim que domine bem. Se for conhecedor de surf, escreva sobre isso; se gostar do seu tempo de escola, dedique seus textos a ele. Mas, faça do seu quadrinho uma extensão do seu conhecimento, pois assim a sua fonte, se não “secar” nunca, pelo menos vai durar muito, muito mais tempo… Afinal, ninguém é de ferro.

Revisão: Consuelo Cruz – xfroesx@gmail.com
Links:
Seção Desastrológica – http://www.tiburcio.locaweb.com.br/madtiburcio.htm
Meu Monarca Favorito – http://blog.tiburcio.locaweb.com.br/

Fonte: Zine Brasil

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