sexta-feira, 1 de junho de 2012

Da leitura de gibis ao lançamento de grandes projetos

A ideia sempre foi ousada: misturar os caminhos de fomentação da leitura de uma biblioteca com a criação de um espaço de convívio e lazer, como o de um parque. Deu certo. As Bibliotecas Parque despontam hoje como projetos multifuncionais de sucesso em áreas de risco da cidade. Depois de fincar estantes e projetos bem-sucedidos em Manguinhos e Niterói, o modelo, vinculado ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ganha a comunidade da Rocinha. A partir de 4 de junho, o C4 – Centro de Convivência, Comunicação e Cultura – abre as suas portas, com cinco andares dedicados à literatura, às artes, à integração dos moradores com as práticas locais, à cultura contemporânea e, é claro, aos clássicos.

Inspirada no formato bem-sucedido de experiências realizadas em Medelin e Bogotá, na Colômbia, a Biblioteca Parque é um espaço de troca e aprendizado, desenvolvido para o aprimoramento social e cultural. Através da reflexão e da criação, o projeto contribui para a diminuição da violência, criando um espaço de convivência dentro da comunidade. A expectativa é de que a nova biblioteca da Rocinha receba 216 mil pessoas por ano, entre moradores da região e de bairros próximos, tendo capacidade inicial para 15 mil livros e dois mil DVDs, além de disponibilizar 48 computadores e 12 notebooks pra uso.

Espaço aberto de diálogo entre o livro e o conhecimento

A diretora da C4, Daniela Ramalho, conta que a ideia de criar um centro cultural nasceu fundamentalmente de um sonho da própria comunidade, que levou o desejo até a Secretaria de Estado de Cultura. "Há uma grande expectativa na região porque a Rocinha tem muitos grupos e atores sociais e culturais, que são interlocutores importantes para o nosso trabalho. Sabemos que a Rocinha é muito populosa e que o público do espaço vai ser muito grande. Por isso, temos conversado com as lideranças e manteremos permanentemente um diálogo aberto com os moradores e com esses agentes”, declara.

O jornalista Robson Melo, funcionário do setor de mídia e música da Biblioteca Parque da Rocinha, atesta, como morador fiel, a implementação do projeto como um grande passo para a comunidade. “É o espaço público mais importante de todos os tempos na Rocinha, porque, apesar das nossas outras reivindicações por melhorias nas condições da favela, cultura não tem preço. Podem te levar tudo, menos o seu conhecimento. A biblioteca vai trazer toda uma vida de saber e criação para comunidade”, garante ele, que costuma incomodar-se com o ambiente formal das bibliotecas tradicionais. “Eu gosto de ler, mas não gostava de biblioteca. O silêncio obrigatório do espaço me incomodava porque acredito em momentos de conversa e de interação durante uma leitura. O centro de convivência da C4 permite que as pessoas dialoguem e debatam”, acrescentou o jovem de 29 anos.

Para a Superintendente da Leitura e do Conhecimento, Vera Saboya, a biblioteca potencializa uma tendência que já fervia na comunidade. “A Rocinha é uma comunidade repleta de artistas, agentes e mediadores culturais. Ela tem uma vocação cultural muito grande. O modelo da Biblioteca Parque é de um espaço múltiplo que trabalha todas as artes: música, cinema, teatro, literatura, gastronomia etc”, comenta. “Na Rocinha, o prédio que sedia o espaço revela a estrutura arquitetônica própria do lugar, uma estrutura toda verticalizada”, completa.

A Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes, também reforça a importância do projeto. "O conceito de biblioteca vem evoluindo muito, de um lugar apenas guardar livros, de consulta para pesquisas e estudos para um centro de cultura, conhecimento e de idadania”, explica. “É um lugar de acesso livre e irrestrito à informação. É isso que forma um cidadão de primeira classe. E é isso que estamos tentando criar com o programa de Bibliotecas Parque”. 

Além das prateleiras com livros, o conjunto de ambientes do espaço conta com uma DVDteca, um cineteatro, um sala multiuso para cursos, estúdios de gravação e edição audiovisual, setor de internet comunitária, cozinha-escola e café literário. “Queremos fazer um atendimento de qualidade e, por isso, contamos com historiadores, atores, bibliotecários, entre outros profissionais. São 45 funcionários, sendo que apenas sete deles não fazem parte da comunidade. Isso nos revela uma compreensão que vem de dentro da Rocinha e uma expectativa enorme. Queremos atrair desde o menino que quer ler o seu gibi até os grupos culturais que querem desenvolver seus projetos”, acrescenta Daniela.

“Imaginamos criar em todas as regiões do estado pelo menos uma biblioteca desse tipo. Todas interligadas, cada uma funcionando como cabeça de rede das bibliotecas municipais, escolares, comunitárias, de todos os projetos de leitura e educação. Seriam as condutoras, a referência de um modelo novo de se discutir a questão do conhecimento, da formação, da educação”, conclui Adriana.

Em um ano de funcionamento,  a Biblioteca Parque de Manguinhos recebeu 130 mil usuários, teve 61.929 consultas ao acervo e 37 mil empréstimos domiciliares e  emitiu 9 mil carteirinhas.

Por sua vez, ao longo de seis meses de funcionamento a Biblioteca Pública de Niterói – a segunda da nossa rede de bibliotecas-parque, re-inaugurada em julho de 2011 após cuidadoso restauro e completa modernização – , recebeu 48.800 usuários, teve 52 mil consultas, emprestou 25 mil livros e emitiu 5.300 carteirinhas.

Depois da Rocinha, a próxima etapa do projeto é a inauguração da Biblioteca Parque do Alemão.

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